A pouco tempo uma massa humana se ergueu no Brasil, pedindo a volta da ditadura militar – pasmem –, chegaram a pedir o AI-5. Isso prova que eles não sabem o que é. Estamos contaminados por Fake News que fazem lavagens cerebrais, emburrecendo parte da sociedade com mensagens equivocadas. A moda, agora, é censura de livros, como também fizeram a Santa Inquisição e o Nazismo.
O “Índex de Livros Proibidos”, cujo nome verdadeiro era Index Librorum Prohibitorum, era a lista oficial de obras consideradas heréticas, obscenas ou contrárias à Igreja Católica, portanto proibidas. Esse “índice” de obras do mal vigorou durante quatro séculos, tornando um inferno na vida de quem escrevia. O mais bizarro nessa história é que os inquisidores dos livros atuais são os mesmos que pediram a volta da Ditadura Militar. Ora. Isso fala por si.
Já andei escrevendo aqui mesmo sobre censura ao livro “O avesso da pele”, de Jeferson Tenório, obra premiadíssima. Mas dois ou três pequenos trechos, despercebidos por quem tem o hábito de ler o mundo, foram o bastante para essa “Caça às Bruxas”. Há certo tempo Cecília Meirelles precisou ir à delegacia de polícia por causa de um livro, mas foi durante o Estado Novo, época que tínhamos de escrever à luz dos olhos do governo Getulista. Hoje, estamos assistindo a uma ditadura contra os livros em pleno século XXI, como um novo Index Librorum Prohibitorum moderno.
A censura nos ronda, mas não é provinda do governo. Vem das pessoas comuns. De grande parte dos pais dos alunos. É muito bizarro. Óbvio que eles têm o direito de voz e devem ser ouvidos, mas essa corrente vem aumentando assustadoramente, e o pior é que quem critica só leu os trechos que reprova. Não leu a obra toda, ou melhor, não são leitores. São pessoas que reproduzem o que leem. Espécie de analfabetos funcionais. E para piorar o pior, determinados políticos – no vale tudo por votos –, usando discursos moralistas, abraçam essa causa e dão uma repercussão insustentável. Não há diferença da época da “caça às bruxas”.
A caça às bruxas foi um movimento de perseguição religiosa, política e social cujo período clássico foi iniciado no século XV, atingindo seu apogeu nos séculos XVI a XVIII, principalmente na Alemanha, Escandinávia, Inglaterra, Escócia, Suíça e, em menor escala na Polônia, Rússia, Finlândia, Islândia, Irlanda, França, Portugal, Itália, Áustria e Império Espanhol, e resultando em cerca de trinta e cinco mil a cinquenta mil execuções. O livro mais expressivo sobre o assunto é o "Martelo das Feiticeiras" (do latim: Malleus Maleficarum) de 1487.
Atualmente, o termo “caça às bruxas” se refere a qualquer investigação geralmente conduzida com muita publicidade, supostamente com o objetivo de revelar atividade subversiva, deslealdade, corrupção, conteúdo indecoroso, mas que busca enfraquecer a oposição política. Essa “caixa às bruxas” é sempre espetaculosa, envolvendo pais que correm atrás de um vereador, que alardeia na Câmara e nas redes sociais, os demais ouvem no rádio e, sem nem saber da essência do livro, correm até a escola e o espetáculo está feito.
Mas também já vimos nas mídias, diretores de escolas dando espetáculos com determinados livros nas mãos, com sentenças prontas, sem os terem lido. E mesmo que os lessem, não é o bastante para julgar, por exemplo, a obra recém condenada por uma cidade inteira, chamada “O Menino Marrom”, de Ziraldo. Esse livro tem 40 anos nas prateleiras das escolas e somente agora está censurado por essas pessoas. Estão enxergando o diabo no livro. Se formos catar recortes de trechos de livros sob tal ângulo, só teríamos livros religiosos dentro das escolas, pois, dos clássicos aos atuais, a maioria tem pluralidades que podem agradar ou não. O grande problema é a falta de maturidade. E aí entra o professor capacitado, competente para trabalhar bem as obras literárias.
Meu filho, Fídias, teve noites e noites embaladas por histórias de Monteiro Lobato contadas por mim. Até hoje guardo esses livros, pois estão cheios de anotações, inclusive eu datava toda noite para não me esquecer o trecho seguinte. E assim Fídias dormiu anos e anos na companhia de Monteiro Lobato. Pois de uns tempos para cá uma parcela de brasileiros passou a considerá-lo persona non grata, depreciando sua lietartura. Ora! Lobato transformou gerações. É um renome. Feliz a criança que é embalada por suas histórias.
Essa alienação é digna de cuidados. Professores, escritores, literatas, equipes escolares, equipes das secretarias de educação E PAIS, através dos Conselhos Escolares, devem estar em sintonia sobre esses assuntos, ouvindo especialistas, ao invés de ouvirem pessoas que estão passando lá na feira do grude e são chamadas para dar sentenças ditatoriais. Do jeito que anda, daqui a pouco teremos um novo Index Librorum Prohibitorum em vigor, criado pelos pais dos alunos.
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