ANTES DE LER É BOM SABER...

Contato (Whatsapp) 84.99903.6081 - e-mail: luiscarlosfreire.freire@yahoo.com. Ou pelo formulário no próprio blog. Este blog, criado em 2009, é um espaço intelectual, dedicado à reflexão e à divulgação de estudos sobre Nísia Floresta Brasileira Augusta, sem caráter jornalístico. Luís Carlos Freire é bisneto de Maria Clara de Magalhães Peixoto Fontoura (*1861 +1950 ), bisneta de Francisca Clara Freire do Revoredo (1760–1840), irmã da mãe de Nísia Floresta (1810-1885, Antônia Clara Freire do Revoredo - 1780-1855). Por meio desta linha de descendência, Luís Carlos Freire mantém um vínculo sanguíneo direto com a família de Nísia Floresta, reforçando seu compromisso pessoal e intelectual com a memória da escritora. (Fonte: "Os Troncos de Goianinha", de Ormuz Barbalho, diretor do IHGRN; disponível no Museu Nísia Floresta, RN.) Luís Carlos Freire é estudioso da obra de Nísia Floresta e membro de importantes instituições culturais e científicas, como a Comissão Norte-Riograndense de Folclore, a Sociedade Científica de Estudos da Arte e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Os textos também têm cunho etnográfico, etnológico e filológico, estudos lexicográficos e históricos, pesquisas sobre cultura popular, linguística regional e literatura, muitos deles publicados em congressos, anais acadêmicos e neste blog. O blog reúne estudos inéditos e pesquisas aprofundadas sobre Nísia Floresta, o município homônimo, lendas, tradições, crônicas, poesias, fotografias e documentos históricos, tornando-se uma referência confiável para o conhecimento cultural e histórico do Rio Grande do Norte. Proteção de direitos autorais: Os conteúdos são de propriedade exclusiva do autor. Não é permitida a reprodução integral ou parcial sem autorização prévia, exceto com citação da fonte. A violação de direitos autorais estará sujeita às penalidades previstas em lei. Observação: comentários só serão publicados se contiverem nome completo, e-mail e telefone.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

RESULTADO DO CONCURSO INTERNACIONALPROMOVIDO PELO LIONS INTERNACIONAL COM O TEMA "JUNTOS SOMOS UM"

Desenho escolhido

LIONS INTERNACIONAL - CONCURSO INTERNACIONAL DE DESENHOS "JUNTOS SOMOS UM"...

Tendo sido jurado desse importante concurso internacional, divulgo aqui o resultado final em nível de Brasil. A criança vencedora é uma menina do estado do Piauí. A primeira fase da escolha dos desenhos deu-se há um mês, no Colégio Santa Teresa de Liseux, onde foram analisados desenhos de todo o Nordeste. Ontem, no SESC - Rio Branco, foram escolhidos desenhos entre todos os participantes em nível de Brasil. 

O evento é promovido pelo Lions Internacional. Participaram 600 mil crianças de vários países, com idades entre 8 a 13 anos. Em fevereiro sairá o resultado geral nos Estados Unidos. O evento contou com diversas autoridades civis, militares e eclesiásticas, além da imprensa local. parabenizo a todos os participantes e agradeço aos Lions pela confiança nessa missão de grande responsabilidade...






















terça-feira, 2 de dezembro de 2025

EMPATIA E ALTRUÍSMO ENJAULADOS ANTE O ÓDIO SOLTO...


O caso traumático do jovem Gerson de Melo Machado, de 19 anos, apelidado de “Vaqueirinho de Mangabeira” – que invadiu a área de uma leoa, foi atacado e morto por ela no último domingo – impactou o Brasil. As redes sociais ainda estão sob os efeitos disso. Mas o que me faz escrever é a perplexidade diante dos comentários assustadores que tenho lido no Facebook e no Instagram sobre essa fatalidade. Não sei como há tanta gente má no nosso país. Antes, eu pensava que a pandemia da Covid-19 tornaria as pessoas mais humanizadas, mas me enganei. Não sei o que houve, pois, se o demônio é tudo isso que dizem, ele encontrou incontáveis clones no nosso país. Haja gente má.

Esse rapaz era esquizofrênico e tinha deficiência mental. Funcionários públicos que lidavam com ele são unânimes em dizer que ele era uma criança de cinco anos em um corpo de dezenove. A mãe e a avó são esquizofrênicas. Gerson nasceu em um lar de extrema pobreza, vivia entre a rua e o seu barraco, passou muita fome, apanhou muito na rua e em casa.

É certo que, uma semana antes de sua morte, ele havia sido preso duas vezes em menos de uma hora: a primeira por tentar danificar dois caixas eletrônicos de um banco; a segunda, por arremessar um paralelepípedo e quebrar o vidro de uma viatura da polícia. Também há registro de que, em janeiro de 2025, ele danificou o portão de um centro de ressocialização juvenil (um antigo espaço em que esteve internado), o que resultou em intervenção policial. O diretor de uma penitenciária local declarou à imprensa que “Vaqueirinho não conheceu outra vida senão a prisão”, com dez apreensões na adolescência e seis na maioridade - o que soma as “16 passagens”.

Particularmente, acho que todo marginal deve ser julgado e punido na forma da legislação vigente, mas não há como classificar como marginal uma pessoa cuja mente, segundo as próprias autoridades, equivalia à cognição de uma criança de cinco anos. Quem, em sã consciência, atiraria um paralelepípedo em um caixa eletrônico e outro no carro da polícia? Na verdade, Gerson foi aquela criança que nasceu e cresceu ouvindo da mãe e dos parentes as frases típicas desses lares miseráveis, como: “ele é doente”, “ele é doido”, “ele tem problemas mentais”, “ele não sabe nada”, “ele não aprende”, “ele não evolui”, entre outras sentenças afins. Gerson não foi provocado a evoluir cognitivamente; foi provocado a pensar que era burro, que não aprendia, que era doido e tudo mais.

João Pessoa inteira conhecia o “Vaqueirinho de Mangabeira”. Era uma figura popular. Para muitos, era um brinquedo, uma diversão, objeto de chacota. Obviamente, havia meia dúzia de pessoas que, por empatia e altruísmo, o tratavam bem, o alimentavam, conversavam com respeito, davam conselhos e o ajudavam. Mas a maioria o via como os reis viam os bobos da corte: um brinquedo que servia de mangação (como diz o povo nordestino).

Esse rapaz vivia atormentado pelo lar desajustado, pela falta de alimentação adequada e, pior, pelas reações da esquizofrenia. É quase certo que ele foi a esse encontro com a leoa tomado pelas vozes da própria doença. Ele dizia que seu sonho era ir para a Àfrica domar leões.

Uma funcionária pública do Conselho Tutelar - uma das poucas pessoas que eram seu porto seguro - declarou que, desde criança, sua vida foi pautada por desajustes e crises decorrentes da esquizofrenia. Sua realidade era tão conhecida que há vídeos dele na internet, registrados em situações diversas e pitorescas nas ruas de João Pessoa, inclusive quando ainda criança. Todos sabiam da realidade do Vaqueirinho de Mangabeira, mas ele era invisível quando o assunto era tratamento médico, socialização e respeito por parte das pessoas comuns. Agora me recordo de quando Michael Jackson gravou um clipe no Rio de Janeiro e ouviu de uma moradora a frase providencial que roubou a cena: “Michael, eles não ligam pra gente!”. E Michael deixou a frase no clipe. Isso é um clássico. Quem “ligou” para o Vaqueirinho da Mangabeira? NINGUÉM!

Num país em que homens que ocupam respeitáveis postos roubam milhões em joias e fazem rachadinhas milionárias, num país em que depredam o patrimônio histórico da Capital Federal, como chamar de bandido uma criatura que tem a mente igual à de uma criança de cinco anos? O que o Vaqueirinho roubou? NADA! Como comparar a destruição de Brasília com a avaria causada em um carro da polícia e em um caixa eletrônico por uma mente infantil, cujos “crimes” se deram por desajustes mentais e jamais por má índole ou instinto criminoso?

Ora! O que vejo é falta de empatia e altruísmo. Quase todos preocupados com a leoa, aplaudindo a morte de um ser humano - quase uma criança - como faziam no Coliseu, onde pessoas eram atiradas aos leões como entretenimento. Se esse jovem estivesse normal, não faria tamanha insanidade. O animal merece cuidado, sim; afinal, nasceu ali, era o seu habitat. Ela matou o Vaqueirinho por instinto. Estrangulou, não o predou. Mas só se viam execrações por parte de seres humanos cujos feitos não os diferenciam do que sabemos sobre o demônio. Aquele menino poderia ser seu filho, seu irmão, seu parente... e aí? E se fosse? Você aplaudiria?

Qualquer pessoa pode nascer com esquizofrenia ou com deficiência mental. Esse rapaz não teve culpa de nada - nem dos “crimes” que praticou, nem da invasão ao espaço da leoa. Sua morte foi a culminância de uma longa história: um Estado omisso, moroso e burocrático, e uma sociedade má, que zomba dos outros, que não se coloca no lugar dos outros e que não é capaz de - mesmo podendo - ajudar alguém. Essas pessoas são más. São hipócritas. Não têm nada de cristãs, pois um cristão tem compaixão, piedade, respeito e amor ao próximo.

Enfim, para mim, essa fatalidade - por incrível que pareça, quase no Natal - convida os desumanos e insensíveis a sentirem EMPATIA e a agir com ALTRUÍSMO. Olhem ao seu redor. Há muita gente precisando de um pão, um remédio, uma fralda, um saco de carvão; uma orientação, um esclarecimento, uma visita ao abrigo, enfim, daquilo que temos em abundância em nós e nossas casas. Há muita gente precisando de calor humano, amor, respeito, acolhida, diálogo, uma simples conversa... Há pessoas que se sentem bem com um simples “bom dia”.

Perdão, mas, se você se diz cristão e atira pedras num rapaz como o Vaqueirinho, você não está precisando de igreja e tampouco de uma Bíblia. Você está precisando de uma jaula...

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

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LENDA DA LAGOA PAPARY...

 


A lenda da lagoa Papary faz parte da cultura popular do município de Nísia Floresta, que se chamava Papary até 1948, quando mudaram o nome para Nísia Floresta.

Contava-se em Papary /A lenda de uma sereia/Era a história de Jacy/Jovem tapuia da aldeia/ Jaci formosa e catita/Filha do chefe Aribó/Era a índia mais bonita/Do Vale do Capió/Amava com amor ardente/Guaracy jovem guerreiro/Cujo peito igualmente/Nasceu um afeto primeiro/Sozinho na solidão/Guaracy vagava à toa/Ora ao redor da Caiçara/Ora ao redor da lagoa/Certa vez quando pescava/Tentando esquecer as mágoas/Ouviu que perto cantava/A voz de Jaci nas águas/A delirar, Guaracy/Na lagoa mergulhou/Seguiu a voz de Jaci/E à tona não mais voltou/Hoje essa lenda triste/Quem se dispõe a cantar/Vê quanto mistério existe/Entre a lagoa e o mar. “A lenda fala sobre Jaci, uma jovem tapuia, e Guaracy, um guerreiro, que se amam intensamente. Guaracy, consumido pela solidão, acaba mergulhando na lagoa atraído pela voz de Jaci, e nunca mais retorna à superfície. Essa trágica história simboliza o amor que ultrapassa barreiras, mas também as consequências do desejo e da busca pelo que é inalcançável. Temas Principais: 1) Amor e Desejo: O amor entre Jaci e Guaracy é forte e puro, mas também marcado por tragédias e desafios. 2) Solidão: Guaracy representa a solidão do ser humano em busca de conexão, algo que muitos podem sentir. 3) Misticismo: A presença da lagoa e da sereia insere um elemento mágico e misterioso, refletindo a relação das culturas indígenas com a natureza e o sobrenatural. 4) Cultura e Tradição: A lenda é uma forma de preservar a cultura e as histórias dos povos indígenas, ressaltando a importância de narrativas orais”.

Apresentada no Teatro Alberto Maranhão, em Natal, Rio Grande do Norte.

Maestros: Lúcia Tabita Marques de Lima e Lailson Toscano de Medeiros

Pesquisa: Luís Carlos Freire (1992)

ALZIRA SORIANO, CELINA GUIMARÃES E MARIA DO CÉU FERNANDES - "POLÍTICAS" -

 


RECORTE DO ESPETÁCULO "NÍSIA FLORESTA BRASILEIRAS AUGUSTAS" - 13 de dezembro de 2024. Texto,/Cenário e Direção Geral: Luís Carlos Freire - Direção Artística: Marx Bruno.

Este balé encena a poderosa jornada da emancipação feminina. Cada movimento traduz a transformação da mulher que, inspirada pelas pioneiras - Alzira Soriano, Celina Guimarães e Maria do Céu Fernandes - despertou de sua letargia e lançou-se à luta. No palco da vida, ela conquistou as ciências, desvendou horizontes e compreendeu que não havia barreiras entre ser dona de casa e ser presidente da república, médica, cientista, militar, senadora — ou o que mais sua vontade ousasse almejar. É a celebração da mulher que rompeu os grilhões invisíveis que a prendiam, que ergueu a voz e declarou com convicção: "Eu posso". Nesta dança, vibra a essência de sua liberdade e a força de sua determinação, iluminando o caminho para as gerações futuras.

LENDA DA LAGOA PAPARY - CORAL...

 


LENDA DA LAGOA PAPARY - AUTOR DESCONHECIDO - CORAL – RECORTE DO ESPETÁCULO "NÍSIA FLORESTA BRASILEIRAS AUGUSTAS - DIREÇÃO GERAL/TEXTO E CENÁRIO: LUÍS CARLOS FREIRE - DIREÇÃO ARTÍSTICO-COREOGRÁFICA: MARX BRUNO. Contava-se em Papary /A lenda de uma sereia/Era a história de Jacy/Jovem tapuia da aldeia/ Jaci formosa e catita/Filha do chefe Aribó/Era a índia mais bonita/Do Vale do Capió/Amava com amor ardente/Guaracy jovem guerreiro/Cujo peito igualmente/Nasceu um afeto primeiro/Sozinho na solidão/Guaracy vagava à toa/Ora ao redor da Caiçara/Ora ao redor da lagoa/Certa vez quando pescava/Tentando esquecer as mágoas/Ouviu que perto cantava/A voz de Jaci nas águas/A delirar, Guaracy/Na lagoa mergulhou/Seguiu a voz de Jaci/E à tona não mais voltou/Hoje essa lenda triste/Quem se dispõe a cantar/Vê quanto mistério existe/Entre a lagoa e o mar. “A lenda fala sobre Jaci, uma jovem tapuia, e Guaracy, um guerreiro, que se amam intensamente. Guaracy, consumido pela solidão, acaba mergulhando na lagoa atraído pela voz de Jaci, e nunca mais retorna à superfície. Essa trágica história simboliza o amor que ultrapassa barreiras, mas também as consequências do desejo e da busca pelo que é inalcançável. Temas Principais: 1) Amor e Desejo: O amor entre Jaci e Guaracy é forte e puro, mas também marcado por tragédias e desafios. 2) Solidão: Guaracy representa a solidão do ser humano em busca de conexão, algo que muitos podem sentir. 3) Misticismo: A presença da lagoa e da sereia insere um elemento mágico e misterioso, refletindo a relação das culturas indígenas com a natureza e o sobrenatural. 4) Cultura e Tradição: A lenda é uma forma de preservar a cultura e as histórias dos povos indígenas, ressaltando a importância de narrativas orais”. Maestros: Lúcia Tabita Marques de Lima e Lailson Toscano de Medeiros Pesquisa: Luís Carlos Freire (1992)


Hynno do Primeiro Centenário do Nascimento de Nísia Floresta

 


RECORTE DO ESPETÁCULO "NÍSIA FLORESTA BRASILEIRAS AUGUSTAS" - TEXTO/DIREÇÃO GERAL E CENÁRIO: LUÍS CARLOS FREIRE - DIREÇÃO ARTÍSTICO-COREOGRÁFICA: MARX BRUNO - APRESENTADO NO DIA 13 DE DEZEMBRO DE 2024.

Em 1909, o Congresso Literário, responsável pelas celebrações do centenário de nascimento de Nísia Floresta (e supondo que Nísia Floresta havia nascido em 1809), em parceria com o Grupo Escolar que leva seu nome, compôs um tributo singular: o “Hynno do Primeiro Centenário do Nascimento de Nísia Floresta” (na verdade, Nísia Floresta nasceu em 1810). A ocasião reuniu intelectuais vindos de diversas regiões em Papary — hoje chamada Nísia Floresta — para prestar homenagens à ilustre filha da terra. Esse hino, símbolo de reverência e reconhecimento, transcendeu o tempo. Embora criado há mais de um século, sua melodia e versos ainda ecoam, sendo finalmente gravados em estúdio, pela primeira vez, em 2000, sob os cuidados de Luís carlos Freire. A letra, repleta de lirismo e fervor, exalta a grandeza de Nísia Floresta, vejamos: “Salve filha imortal d’esta terra - Terra ardente de ríspidos soes - Que somente beleza encerra - Mãe fecunda de bravos, de heróis (Surge, ressurge, brilha - Oh! Nísia Sublimada - Oh! Sempiterna filha - Da terra bem amada) Tu que às plagas estranhas levaste - O seu nome, o seu nome eternal - O seu nome obscuro encerraste - No esplendor de uma glória imortal - E essa glória é a tua essa glória - Os vindouros melhor guardarão - Hoje emerge do fundo da história - Sob aurora de excelso clarão”. Com essas palavras, o “hynno” enaltece a trajetória de uma mulher que levou o nome de sua terra natal além-fronteiras, transformando sua história local em um legado universal. Maestros: Lúcia Tabita Marques de Lima e Lailson Toscano de Medeiros Arranjos: Maestro Lailson Toscano de Medeiros e Luís Carlos Freire Pesquisa: Luís Carlos Freire (1992)

DISCURSO DE NÍSIA FLORESTA BRASILEIRA AUGUSTA...

 


A mensagem de Nísia Floresta é uma fala forte, uma aula de civilidade que toca o coração de mulheres e homens. Ela aborda a situação da mulher ontem e hoje, exalta as conquistas femininas, encoraja as mulheres a lutar por sua independência e quebrar grilões que impedem a sua cidadania plena. Nísia descortina a situação crítica da violência contra a mulher atualmente no Rio Grande do Norte, ressalvando que o desrespeito e a violência contra as mulheres seguem intactos em pleno século XXI. Ela reitera que somente de braços dados, homens e mulheres podem se dizer habitantes de um país civilizado, pois só assim serão capazes de colaborar na construção de uma sociedade boa para todos. Enfim, encerra lembrando da única fórmula para melhorar o mundo: RESPEITO!

ESPETÁCULO "NÍSIA FLORESTA BRASILEIRAS AUGUSTAS"
DIREÇÃO GERAL/TEXTO E CENÁRIO: LUÍS CARLOS FREIRE - DIREÇÃO ARTÍSTICO-VOREOGRÁFICA: MARX BRUNO

sábado, 22 de novembro de 2025

ESSA FOI A MINHA REDAÇÃO NO ENEM...

"Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira"

Quando adolescente, mesmo que não tenha sido intencional, mas algo da minha índole, somado ao que aprendi com os meus pais sem que os mesmos fossem pessoas religiosas - os quais respeitavam muito os idosos e os acolhiam sempre - fez com que eu aprendesse a enxergar o envelhecimento como uma dádiva. Enquanto outros meninos preferiam única e exclusivamente brincar na rua ou correr sem rumo, eu também era assim, mas não me privava de buscar as sombras tranquilas das varandas onde os mais velhos gostavam de se sentar.

Sempre enxerguei os velhos: seja no banco da praça, no banco de suas residências, andando nas ruas… onde estivessem, eu os enxergava. Sempre os vi como fontes inesgotáveis de sabedoria, conselheiros atentos, detentores de histórias que pareciam saídas de livros quando eu os interrogava, curioso, ávido por saber o que eles viveram no passado.

Passei horas - dias, meses até - conversando, ouvindo, rindo, admirando, anotando causos, lendas, ensinamentos e lembranças. Sempre gostei de História Oral, certamente influenciado pela mesma sensibilidade de Ecléa Bosi, que passou a vida escrevendo histórias de velhos, assim como também a grandiosa Hildegardes Vianna.

Nesses empreendimentos, eu visitava alguns idosos inúmeras vezes, retornando quantas fossem necessárias, porque alguns estavam mais esquecidos e iam se lembrando aos poucos; e cada visita era uma descoberta.

Esse respeito profundo pelos idosos moldou a minha vida. Aprendi, desde cedo, a enxergar as coisas de forma diferente. Eu os tratava com muito carinho e respeito, porque entendia que suas histórias sintetizavam décadas de existência, e tudo o que diziam era pautado em fatos, o que, para mim, servia de ensinamento. Eram histórias que eu não encontrava em nenhum livro.

Ontem, ao completar 58 anos e estar a dois anos da idade oficialmente considerada idosa, observo que o cenário atual envolvendo jovens e idosos não é o mesmo que eu via no passado. Pois, embora nem todos os meus amigos fossem iguais a mim, era mais comum ver pessoas parecidas comigo, se comparado ao presente. Não vejo mais jovens que se pareçam com o Luís Carlos que um dia fui. Não porque “os tempos são outros” ou porque “os interesses mudaram”, como muitos poderão querer justificar, mas porque a educação - salvas as exceções - tem moldado gerações mais indiferentes, apáticas e, por vezes, hostis.

Somado a essa realidade, temos o aparelho celular que, por mais que também seja um instrumento precioso de comunicação, transformou-se num equipamento que isola a todos. Os jovens vivem mergulhados na tela, incapazes de erguer os olhos para dar atenção a qualquer pessoa, e, quando essa pessoa é idosa, ela é invisível. Tornaram-se ensimesmados; o mundo real, as pessoas de carne e osso foram substituídas por pessoas que talvez nem existam. A inteligência artificial substitui o raciocínio, a emoção, o diálogo, o calor humano. E parece até mais atrativa, criando um mundo paralelo. E nesse mundo fútil não há espaço para idosos; portanto, resta-lhes a indiferença e a naturalização do abandono.

Hoje é muito comum vermos idosos deixados em abrigos, sem visita da família, esquecidos em quartos silenciosos, confinados nos fundos dos quintais, invisíveis ao cotidiano doméstico, como se fossem coisa. Mal os filhos e netos lhes dirigem palavras. Muitos são explorados financeiramente; suas aposentadorias se transformaram em cofres particulares de filhos e netos. A violência física e psicológica, a falta de alimentação adequada, a ausência de medicação e até o encarceramento dentro do próprio lar tornaram-se comuns. Esses fatos, muitas vezes silenciados por vergonha ou medo, revelam não apenas a vulnerabilidade extrema da velhice, mas a fragilidade moral de uma sociedade que deveria proteger seus anciãos.

Acredito que as instituições públicas e privadas devem desenvolver campanhas mais específicas e contínuas sobre o respeito à pessoa idosa. É urgente que as escolas trabalhem, desde cedo, a temática do envelhecimento. As crianças precisam aprender que os idosos não são estorvos, mas pilares; não são inúteis, mas referências; não são fardos, mas ancestrais que nos antecederam e nos sustentam através da memória coletiva. Desde cedo, as crianças precisam compreender que envelhecer é o destino comum a todos nós, e que a forma como tratamos os que chegaram lá antes de nós define o tipo de sociedade que estamos construindo.

Educar as crianças e jovens para o respeito aos idosos não é apenas uma questão ética: é um investimento no próprio futuro. Afinal, o que todos desejamos é que, ao envelhecermos, encontremos cuidado, dignidade e amor, e não um cenário marcado por violência e abandono, como o que está tão comum atualmente.

Hoje estou quase um idoso - segundo o que está disposto no sistema -, e já começo a perceber que não existem mais os Luís Carlos que fui, e fico imaginando o que está acontecendo com o mundo quando eu, que fui essa pessoa tão respeitosa com os idosos, que dei tanto sentido às suas vidas, hoje vejo pouquíssimo sinal desse respeito. Infelizmente.

OBS. Na verdade, eu não participei do ENEM. Apenas me chamou a atenção o tema “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”, pois veio a calhar. É um assunto que venho trabalhando há anos com as pessoas comuns no meu cotidiano. Então aproveitei para escrever essa redação e expressar o que penso. Se o tivesse feito, essa seria a minha redação...

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sexta-feira, 21 de novembro de 2025

AS CARTAS QUE RECEBI DO PAPA JOÃO PAULO II...

  

Quando jovem, eu escrevia cartas com intensidade. Como colecionador de selos e moedas antigas, mantinha contato com uma infinidade de pessoas - também colecionadores - do Brasil e do exterior. À época, eu recebia gratuitamente dos Correios a revista COFI (Correio Filatélico), cuja última página trazia endereços de todo o planeta Terra. Eram filatelistas, cada qual com seu interesse: trocar selos, vender, comprar etc.

João Paulo II (18.5.1920 - 2.4.2005)

Minha mãe escrevia muitas cartas para seus familiares daqui do Rio Grande do Norte, em especial para sua única irmã – de São José de Mipibu - fato que certamente despertou em mim o espírito missivista, pois meu arquivo epistolar era gigantesco.

Sempre fui a pessoa que saltava do quadrado; dessa forma, escrevia para muitas outras pessoas e com outras finalidades, sempre movido por alguma curiosidade ou pela procura de informação. Àquela época não existia fax. A internet engatinhava naqueles recônditos, de maneira que não sabíamos exatamente o que era aquilo. Tudo era no papel, na caneta Bic, no lápis e na borracha. Tudo na base do punho.

Desde os 9 anos eu escrevia. É algo inexplicável, como se um espírito baixasse e despejasse palavras nos papéis que encontrava. Gastava noites incorporando palavras, de modo que, sem perceber, o dia amanhecia. Assim, eu aproveitava todos os papéis possíveis. Sobras dos cadernos escolares se tornaram matéria-prima para a escrita. Sempre gostei de escrever a lápis, costume preservado até hoje. Sempre fiz livrinhos de papel, onde guardava poemas, se assim posso defini-los.

Foi exatamente esse espírito inquieto que despertou em mim o interesse de me comunicar com o Papa e com outras figuras importantes do mundo, como, por exemplo, a rainha Elizabeth II, o presidente do Paraguai e o presidente de Portugal. Havia algo tão esdrúxulo nesse meu espírito missivista que até mesmo com a “Mãe Dinah” eu me comuniquei. Recebi resposta de todos. E vale lembrar que fiz amigos - com idades semelhantes à minha - em países como México, Honduras, Itália, Costa Rica, Paraguai, Alemanha, Canadá e outros. Nesses casos, a afinidade eram os selos, minha paixão. Eu ia ao inferno atrás de selos e moedas...

Hoje, escavacando papéis pessoais muito antigos à procura de um documento, dei-me com essas cartas que recebi do Vaticano. São respostas, obviamente. A primeira me foi enviada no dia 22 de janeiro de 1986. Eu tinha 19 anos. A segunda veio em 29 de agosto de 1986. A terceira, em janeiro de 1987. A quarta, em maio de 1988. E a última chegou no dia 8 de janeiro de 1998, eu já morava nas terras de Câmara Cascudo. Até carta da “Mãe Dinah” encontrei. As demais citadas devem estar em algum lugar da minha papelaria, até porque o meu arquivo epistolar se imiscui com tanta coisa velha que às vezes me pergunto se fui eu mesmo que escrevi para aquelas pessoas ou se foram os espíritos madrugadeiros que me entoavam.

Nossa casa era um endereço conhecidíssimo dos carteiros da cidade, pois havia ali um escritor de cartas que funcionava para onde desse na telha.

Ah! Mas devo contar um pouco sobre o que me instigava a escrever ao Papa, já que, em outra ocasião, mostrarei a resposta da rainha Elizabeth II (quando achar, já que não faço ideia de onde esteja; pode até estar guardada nos velhos baús do Mato Grosso do Sul). Sei que lá está tudo intacto, pois, quando estive de férias ali entre junho e julho, doei dezenas de livros da adolescência para um sobrinho. Doei o móvel e tudo.

Minhas cartas eram movidas por curiosidades sobre coisas da religião, da história do Cristianismo, dos dogmas da Igreja, dos rituais católicos, determinados fatos passados com alguns papas, felicitações por seu aniversário etc. Curiosidade: nunca recebi explicação sobre o que questionava. Eram respostas genéricas, sempre orientando que procurasse um padre próximo para dar tais explicações .... rsss. Também tenho alguns cartões que vinham juntos. Estão guardados em algum lugar.

Um detalhe interessante: eu nunca fiz escarcéu das cartas. Para mim, as cartas do Papa, da Elizabeth II ou do presidente do Paraguai eram tão iguais e importantes quanto as de um menino filatelista mexicano - que residia em Durango Lerdo, no México -, que conheci aos 12 anos. Tenho um monte de fotografias desse amigo e de seus familiares. Eles amavam o Brasil.


Também me recordo de uma curiosidade. Nem minha mãe, nem meu pai, nem meus irmãos faziam caso dessas cartas. E nem de todas eles tomavam conhecimento. Certamente porque nossa casa era uma espécie de extensão dos Correios...

E do mesmo modo como meus familiares não sabiam ou não faziam conta dessas cartas - e creio que nem eu mesmo -, creio que Fídias fará igual, pois, morando na Rússia - e com certeza - vindo ao Brasil apenas de férias e rapidamente - certamante sendo a terra de Stalin a sua segunda pátria -, não fará questão de guardar tantas bugigangas...

João Paulo II no "Papódromo", na Governadoria.


Uma curiosidade: quando cheguei em Natal, no dia 31 de dezembro de 1991, havia completado pouco mais de dois meses que João Paulo II havia estado em Natal, durante o Congresso Eucarístico Nacional, ocorrido no período de 12 e 13 de outubro de 1991. Em 1996 estive no local onde ele ficou hospedado, num imenso prédio pertencente à Arquidiocese de Natal, em Ponta Negra.

Pois bem... eis que hoje, atrás de um documento, dei-me com essas respostas que recebi do Vaticano...

João Paulo II chegando ao papódromo.



quarta-feira, 19 de novembro de 2025

NÃO CRIMINALIZE AS RELIGIÕES DE MATRIZES AFRICANAS, CRIMINALIZE QUEM AS CRIMINALIZA...

 


REPÚDIO...

É com profunda indignação e revolta que tomo este espaço para refletir - e gritar - sobre o episódio absurdo ocorrido na EMEI Antônio Bento (zona oeste de São Paulo), onde agentes da Polícia Militar do Estado de São Paulo entraram, armados - inclusive com metralhadora - em uma escola infantil após a queixa de um pai de que sua filha, de apenas quatro anos, havia desenhado uma figura da divindade Iansã durante uma aula integrada ao currículo escolar.

Esse tipo de atuação policial - truculenta, desproporcional, desumana - não pode ser visto como exceção ou uma fatalidade. É sintoma grave de uma lógica de opressão cultural, racial e religiosa que persiste no Brasil. E justamente agora, às vésperas do DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA que - coincidentemente é a data do meu aniversário - ele se torna redobrado em sua simbologia e urgência.



Desde a colonização, o que veio da África foi criminalizado, demonizado, apedrejado, literalmente. As religiões de matriz africana sofreram séculos de perseguição, estigmatização, invisibilização. O Brasil, inclusive, tem população majoritariamente negra, e ainda assim vemos o comportamento horroroso e - pasmem - tão comum - onde as práticas religiosas afro-brasileiras são tratadas como desvio, ameaça, imoralidade.

Ver uma criança desenhar Iansã (uma entidade sagrada em tais religiões) transformar-se em razão para a polícia invadir uma escola como entrasse num teatro de guerra é a evidência concreta de que, mais que preconceito, há ódio ao que vem dos povos pretos do Brasil.
A normalização desse tipo de violência é inadmissível. Que sociedade tolera que uma escola infantil, ambiente de proteção à infância, seja palco de intimidação armada por atividade pedagógica legítima?

Vale lembrar que as leis brasileiras já exigem: a Lei 10.639/2003 tornou obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira em todas as escolas, públicas e privadas. E a Lei 11.645/2008 ampliou este dever para incluir também a história e cultura dos povos indígenas. Em outras palavras: O ESTADO JÁ RECONHECE, LEGALMENTE, QUE O ENSINO SOBRE AS CULTURAS NEGRAS E INDÍGENAS TEM A MESMA IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE QUALQUER TRADIÇÃO RELIGIOSA OU CULTURAL - INCLUSIVE CRISTÃ.

Então: por que, no cotidiano de uma escola, uma atividade lúdica de desenho acerca de uma entidade de religião afro-brasileira se transforma num momento de terror? O que explica que, nas escolas, o ensino do cristianismo ou de ícones como Nossa Senhora Aparecida jamais virasse motivo para polícia entrar aos trancos e barrancos, mas a representação de Iansã vira? Se fosse o desenho de Nossa Senhora Aparecida (que merece todo respeito) o pai teria chamado a polícia? A polícia teria invadido com metralhadora?


Imaginem o que se passou na cabecinha dessa criança de quatro anos ao ver quatro agentes armados entrando em sua escola por causa de um desenho que ela fez. Isso é bizarro. É de uma monstruosidade imperdoável. O impacto psicológico, emocional, coletivo - entre crianças, educadores, famílias - se transformou em memória afetiva, com toda certeza. E que memória afetiva!.

A mensagem que foi enviada, sem palavras, é a seguinte: “APRENDER SOBRE RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA É CRIME, PODE LEVAR À POLÍCIA. PODE LEVAR AO MEDO. PODE LEVAR À VIOLÊNCIA.” Foi esse o ensinamento.

Tudo isso gera um efeito duplo: ao mesmo tempo, criminaliza a própria cultura afro-brasileira (e seus símbolos), e transmite às crianças negras (e não só) que sua cultura, suas crenças, são ilegítimas, problemáticas e ameaçadoras. E isso não é um caso isolado: é a forma mais estúpida do reflexo da estrutura de racismo religioso e cultural do país.

As leis existem, mas não basta terem sido aprovadas. A implementação segue falha. Recentemente li que grande parte das secretarias municipais de educação do Brasil realizam pouca ou nenhuma ação para fazer valer a Lei 10.639/03. Ou seja: enquanto o arcabouço legal está lá, o ambiente social e institucional permanece hostil. Por quê? Ora! Por preconceito.

Recentemente, na Câmara de Vereadores de Parnamirim, um vereador agradeceu a Deus pelo fato de que não foi aprovado pela casa o "Dia do Preto Velho" Preto-velho – Wikipédia, a enciclopédia livre proposto por pessoas que seguem religiões de matrizes africanas. E o mais louco é que foi aprovado por eles a "Frente Parlamentar evangélica". O que é isso senão preconceito religioso?

Pois bem, a escola onde ocorreu a invasão armada informou que a atividade fazia parte do “currículo antirracista” da rede municipal de São Paulo. Isto reforça a indignação: se esse é o tipo de reação que se obtém mesmo quando se busca implementar a lei, quanto mais quando as temáticas são tratadas com negligência ou invisibilidade?

Não se trata apenas de “medo de religião” ou “diferença de crença”, trata-se de racismo religioso: o ódio ou menosprezo dirigido às religiões de matriz africana, associado corriqueiramente a processos de deslegitimação cultural. O fato de uma escola e uma família reagirem com esse nível de violência perante um desenho de Iansã revela que, sim, existe esse “asco” às religiões dos pretos. É estrutural.

Essa truculência jamais explica o que quer que seja. Não existe qualquer justificativa pedagógica ou de segurança que legitime a entrada de policiais armados em escola infantil por causa de um desenho. Nesse gesto horroroso encontra-se o símbolo maior de que 500 anos de apedrejamento simbólico e real ainda estão presentes com intensidade.

Estamos no século XXI, e ainda precisamos reafirmar que religiões de matriz africana não são "menos", não são “erradas”, não são “problemáticas”. Elas são tão diferentes quanto o budismo, o islamismo, o judaísmo, e merecem o mesmo respeito, a mesma legitimidade, o mesmo espaço nas escolas.

Que esse episódio seja um alerta: à comunidade escolar, ao poder público, à sociedade civil. O ensino antirracista não é opcional; a valorização da cultura negra não pode mais ser empurrada para “atividades complementares”; e cada vez que uma criança recebe a mensagem de que sua cultura pode levar polícia à escola, o dano é enorme.

Não devemos aceitar esse tipo de massacre cultural sob nenhuma circunstância. A vida e a dignidade das crianças - especialmente das crianças negras - exigem respeito, proteção, pluralidade. E o Brasil, país de maioria negra, exige isso agora. Lembrem: Isso não foi um acidente, foi o padrão do tratamento dado aos povos pretos do Brasil. E tudo piora quando sabemos que há poucos dias o Governo Federal transformou em feriado o Dia da Consciência Negra que – pasmem – é amanhã. Uma vergonha!

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

HALLOWEEN: ENTRE ABÓBORAS E CURUPIRAS...


Confesso que sempre me espanta essa pressa de as escolas e instituições culturais – salvas as devidas exceções - se vestir de zumbi, de pendurar morcegos de plástico e de sair às ruas gritando “doces ou travessuras” como se o Brasil tivesse sido colonizado por druidas ou vampiros irlandeses. Não, não tenho nada contra o Halloween. Lá, onde nasceu, é uma expressão legítima da cultura de um povo. O que discordo é o modo como o importamos, como quem troca o chão por um carpete estrangeiro e passa a acreditar que o tapete é mais bonito que o próprio solo.

Eu, que há anos participo da Comissão Estadual de Folclore, não posso silenciar diante dessa substituição quase silenciosa, porém contínua, do nosso imaginário popular por fantasias enlatadas. Não o digo por moralismo, nem por zelo religioso, até porque sou desprendido dessas convenções de altar e púlpito. O que me move é a inquietação de ver nossas crianças saberem mais sobre o Conde Drácula do que sobre o Negrinho do Pastoreio, mais sobre abóboras com velas do que sobre o Bumba Meu Boi.

Talvez me dirão “Ora! Mas tudo do Brasil veio de Fora!” Alto lá. Temos 500 anos (refiro-me a nós, colonizadores; e retiro os povos indígenas dessa, afinal estão aqui há milênios. Isso é outra história, inclusive os mesmos têm bibliotecas infindáveis de cultura popular). Temos 500 anos e a nossa cultura popular, embora muito dela, como exemplo, veio nas caravelas que trouxeram o Romanceiro Ibérico. Mas são 500 anos de cultura popular brasileira!!! Temos bibliotecas inteiras de Folclore puramente nacional. Por qual razão, diante de um celeiro riquíssimo e extraordinário de cultura popular, damos um salto tão longe para buscar abóboras, bruxas, monstros, pessoas esfaqueadas e sangrando, e não fazemos esforço algum para, por exemplo, enaltecer elementos da nossa cultura?

Não diga que as crianças não gostam. Não digam que os professores não gostam. Não digam que os gestores não gostam. Não digam que os representantes de instituições não gostam. AS COISAS SÃO CONSTRUÍDAS, É SÓ COMEÇAR - NATURALMENTE - SEM IMPOSIÇÃO.

Para mim é deplorável constatar que estão deixando de ensinar às crianças a sua brasilidade. E elas não terão culpa quando, no futuro, por exemplo, em estando em outro país, alguém lhe disser: "fale sobre a cultura popular brasileira" e ela ficar com cara de abóbora!

Essas pessoas precisam acordar desse equívoco, pois da forma como fazem, negando à própria essência, negando a própria identidade, está-se educando as crianças e os jovens a amar o que vem de fora e desprezar a si. Isso não é bom, pois lá fora ninguém faz isso, pelo contrário, são bairristas.

As escolas - salvo honrosas exceções -, parecem competir entre si para ver quem faz o Halloween mais “instagramável”. E, curiosamente, as mesmas escolas que afirmam “valorizar a cultura brasileira” (Como orienta a própria Constituição Brasileira) esquecem-se de marcar no calendário o Dia do Saci, ou de convidar os mestres da cultura popular a conversar com os alunos. É como se o Saci tivesse sido derrotado pelo Batman, e o mais triste: com o aplauso da plateia.

Instituições educativas e culturais têm, sim, o dever de promover o intercâmbio entre culturas, mas esse dever não pode ser confundido com a abdicação de nossa própria identidade. O respeito ao outro não exige renúncia de si. Antes de vestir as crianças de fantasmas, deveríamos ensiná-las a reconhecer o som das maracás, o riso do Curupira, a astúcia da Iara, o eco das ladainhas de nosso interior, o batuque dos quilombos...

O Halloween pode - e deve - existir, desde que não devore o que é nosso. Porque cultura não se impõe, se planta. E a nossa, tão rica, não precisa de importação, mas de atenção e exaltação. É brasilidade. O patriotismo tão falado também perpassa por isso. O que me entristece não é o fato de celebrarem o Halloween; é o fato de esquecerem o Folclore Brasileiro - que, aliás, é bem mais vivo, colorido e simbólico do que qualquer abóbora oca iluminada por dentro. A lenda do Fogo Batatão é muito mais alegre do que uma bruxa de nariz adunco e boca murcha voando de vassoura...

Não sou contra o Halloween. Sou a favor do Brasil. E é a partir dessa convicção que escrevo, não como quem ergue muros, mas como quem tenta resgatar pontes. Pontes que liguem as gerações aos seus mitos, aos seus mestres, às suas memórias. Onde estão nossos mestres? Não estão mortos. Talvez estão do seu lado, mas, quem sabe derrotado ou desmotivado por ver a injustiça de buscar o riacho mesmo tendo o mar ao lado. Esses mestres, se provocados, dão espetáculos!

REPITO: Quer comemorar o Halloween? Comemore! Mas antes, conheça o seu país. Conheça os seus valores, conheça a sua cultura e comemore com a mesma ênfase!

O que somos sem o que nos fez ser? Talvez apenas personagens de um enredo estrangeiro, recitando falas que não nos pertencem.


segunda-feira, 13 de outubro de 2025

domingo, 12 de outubro de 2025

NÍSIA FLORESTA: A PRIMEIRA MULHER FILÓSOFA DO BRASIL...



NA PASSAGEM DOS 215 ANOS DO NASCIMENTO DE NÍSIA FLORESTA BRASILEIRA AUGUSTA - COMEMORADO HOJE -, O MEU TRIBUTO...

Há muitos anos penso em escrever essa “tese”, defendendo, sem receio algum, que Nísia Floresta é uma filósofa. Esse estudo estava faltando. É um ensaio inédito que ora presenteio o leitor na data em que bendizemos os 215 anos do nascimento de Nísia, neste 12 de outubro. Juntando o que anotei de sua obra e de  história no curso de 33 anos – para que não se perdesse como já perdi tantos escritos, acostumado a escrever a mão –, construí essas páginas por um sentimento de urgência e de justiça histórica. E esse meu sentimento de justiça é o mesmo de quando documentei, ao longo de muito tempo, a história, a cultura popular e tudo mais que pude colher principalmente dos idosos nisiaflorestenses, esses sábios.

Chamar Nísia Floresta de pensadora, e não de filósofa, é o mesmo que elogiar um general por “ter jeito para comandar”, o que acaba sendo um modo cortês de negar-lhe o posto que lhe cabe. É a delicadeza sutil do rebaixamento. Há uma sensibilidade quase burocrática nessa omissão: quando a mulher pensa, ela “reflete”; quando o homem pensa, ele “filosofa”. Assim, a diferença não está na produção intelectual, mas no rótulo com que se aplainam hierarquias. Ou, talvez, por ser brasileira e ter estampado isso até no seu pseudônimo, Nísia não aparece como filósofa. Ora, como seria possível, para muitos, que uma filósofa tenha a coragem de ser… brasileira?

O eurocentrismo colonialista que até hoje permeia o campo das ciências e centra o debate epistemológico define como pecado o fato de se pertencer ao Sul Global. Como se ser brasileira, por exemplo, fosse, antes de tudo, um pecado. É curioso. Portanto, seria preciso chamar Nísia Floresta somente de “pensadora” para manter o conforto da aparência liberal sem precisar mover o mundo real. É admitir a inteligência feminina, claro, mas desde que ela não ouse ocupar a cadeira dos filósofos. É assim que funciona o liberalismo, mas, ante omnia, é assim que funciona a pressão do pensamento colonial e a farsa da identidade.

Sempre houve um silêncio aquietado nos ares de Nísia Floresta. Essa quietude ao ocaso e ao acaso não é feita de ausências, mas de presenças acumuladas. É um silêncio encoberto pela poeira do tempo, adocicado pelo cheiro dos velhos engenhos que ainda sobejam na localidade, uns em ruínas, outros, semi-intactos. Andar por essa terra que – pasmem – ainda guarda ruínas de uma casa de pedra de 1570, é como caminhar dentro de livro antigo de história, cujas páginas amarelecidas pelo tempo, permitem uma espécie de descoberta arqueológica em que nos deparamos com histórias sussurradas para quem se dispõe a escutá-las e auscutá-las.

Essa bela tela, pintada por homens e mulheres de remoto passado, concentra o microcosmo de um Brasil oitocentista, patriarcal e escravocrata, onde nasceu uma das inteligências mais brilhantes do nosso país e, paradoxalmente, renegada por alguns: Dionísia Gonçalves Pinto Lisboa, a nossa Nísia Floresta Brasileira Augusta, filha do português Dionísio Gonçalves Pinto Lisboa e de Dona Antônia Clara Freire do Revoredo.

Este ensaio – ou esta “tese” –, mais do que um mero exercício de exegese histórica ou de crítica literária em que ouso me enveredar, se propõe a realizar um estudo análogo àquela que eu mesmo me dedico em minhas pesquisas sobre esta região e o seu povo: como está escrito no cabeçalho do meu blog, um trabalho de cunho "etnográfico, etnológico e filológico", uma proposta de resgate e preservação da memória, atividade que faço há mais de 30 anos.

Com o mesmo desvelo em que me debruço sobre as lendas, os "causos" e a linguagem regional – popular – do povo norte-rio-grandense, dedico-me, doravante, a espanar a grossa poeira que encobriu e sufocou muito dessa pintura, escondendo um detalhe inédito e que agora, qual um arqueólogo adentrando câmara piramidal esquecida há 4.000 anos, revelo e dou o nome de “A Filósofa Nísia Floresta Brasileira Augusta”. Isso mesmo! Todos os bons nomes foram dados a ela: indianista, escritora, feminista, republicana, educadora, abolicionista e outros, mas omitiram a filósofa pioneira do nosso país.

Não se trata de buscar apenas reiterar o que já foi ofertado no panteão dos estudos acadêmicos: que Nísia foi uma educadora pioneira, uma protofeminista corajosa, uma escritora de raro talento, mas, com certeza, uma filósofa. Para quem a leu e estudou profundamente a sua obra, supostamente visualizou essa condição na nossa Nísia, mas nunca leu algum estudo específico que reunisse informações substanciais a ponto de passarmos a vê-la como filósofa.

Este estudo se dispõe a um ofício mais audaz e, talvez, mais necessário: defender a tese, tantas vezes negligenciada, de que Nísia Floresta foi, em sua época e a seu modo, uma filósofa. Uma pensadora que, mais do que reagir ao seu mundo, o interrogou em seus fundamentos, investigou a natureza da justiça, a finalidade da educação e a essência da condição humana.

Nunca algum pesquisador, com a devida vênia aos estudiosos que me precederam – até porque seus objetivos eram outros e tão nobres quanto – defendeu com o rigor necessário que Nísia Floresta foi uma filósofas em seu tempo. Ela nunca foi citada como pessoa que filosofou com a mesma propriedade dos mais respeitáveis filósofos. Intitularam-na, embora que respeitosamente e merecidamente no gabinete das “mulheres à frente de seu tempo”, uma espécie de curiosidade histórica, uma anomalia a ser admirada, mas não uma voz a ser integrada ao cânone do pensamento brasileiro.

Desse modo incorro à tarefa de defender que Nísia Floresta era, sim, uma filósofa, mas para reconhecê-la como tal é necessário desnudar os olhos dos preconceitos epistemológicos que exigem da filosofia uma forma inflexível, um sistema fechado, e aprender a ler o pensamento que pulsa nas entrelinhas de seus conselhos, de seus manifestos e de sua prosa profundamente enraizada na alma potiguar. É um convite para nos aprofundarmos não apenas em seus escritos, mas no próprio ato de pensar que eles revelam, um ato de coragem, de resistência e de profunda reflexão.

Para mergulharmos na análise sobre a dimensão filosófica de Nísia Floresta, é fundamental que reconstruamos o cenário onde as suas ideias foram estampadas. Ela nasceu em 1810, portanto, o século XIX era uma construção social de alicerces rígidos, edificada sobre o terreno da monocultura, do latifúndio e da mão de obra escravizada. Na ponta dessa estrutura reinava o patriarca, o dono dos latifúndios, dos engenhos, e sua autoridade não podia ser questionada.

A própria esposa legítima desse patriarca tinha o seu universo desenhado por esse sistema. Elas funcionavam no automático, sem questionamentos, entendendo, desde criança, que nasceram para casar, ter muitos filhos e cuidar muito bem dos mesmos - inclusive na devoção religiosa - além de governar a casa e ser prendada. Como bem registrou o adagiário popular “A mulher só saia de casa para casar, batizar e enterrar.” A expressão que reflete o papel restrito da mulher no ambiente doméstico e a sua exclusão da vida pública até pouco tempo.

O espaço público, o ambiente das ideias, da política e das ciências era exclusividade masculina. Esses mundos lhe eram fechados por um consenso social forte e quase inquestionável. Nesse cenário, o simples ato de uma mulher se sentar num birô para escrever sobre seus direitos, justiça, política e outros temas já se constitui num gesto filosófico radical.

Em sua essência, a filosofia brota do ato de estranhar comportamentos que nos circundam, do ato de se espantar, de interrogar, de se negar a concordar como o mundo onde estamos inseridos. Portanto, nos perguntamos: E o que fez Nísia senão interrogar as verdades mais pétreas de sua época? Sua própria atitude de inaugurar-se como escritora, em 1832, com apenas 22 anos de idade, com a obra Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens, não apenas distribuiu ao povo panfletos permeados de reivindicações, mas praticou a filosofia política em sua plenitude. Ela coloca na parede a ordem social que se pauta na exclusão das mulheres. Nísia questionou a própria natureza do conceito de “direito”, perguntando: a quem ele se aplica? Qual a justificativa para que a biologia seja usada como destino e justificativa para oprimir?

O que é a própria gênese deste livro senão um ato filosófico? Quando Nísia coloca Mary Wolltonecraft Godwin diante dos olhos do leitor brasileiro - deixando muitos perplexos e outros super felizes (pois havia outras pessoas que queriam ver mudanças) -, ela nutria a sua obra com a autoridade das ideias em voga na Inglaterra, e tão presentes no Brasil, ao mesmo tempo em que homenageava uma mulher extremamente ousada. O gesto nisiano, pois, é uma proclamação filosófica. Nísia está dizendo que o pensamento humano é como a mais límpida das águas: não obedece cercas. Quando as águas vêm, trazidas pelos invernos fortes, extrapolam qualquer limite e podem ser ressignificadas, parodiadas, relidas, a bem de estar alagando realidades diferentes e prontas para hidratar qualquer solo, principalmente num país submergido na aridez machista que inferiorizava a mulher.   

Enquanto no Brasil jogavam todos os holofotes sobre o Positismo de Augusto Comte, uma doutrina que em grande parte justificava a ordem vigente, Nísia Floresta, nos confins do Brasil, sem reservas ousava fazer o socrático questionamento: “Isso é justo?”.  Quais mulheres daquele tempo, consumidas por uma vida reclusa, teriam capacidade e ousadia para gritar: “Alto lá! Queremos os nossos direitos”. E o que é isso senão uma profunda reflexão filosófica?                      

O clamor nisiano, longe de ser meramente um grito de “chega”, ou uma lamúria, era uma bandeira hasteada em altíssimo mastro. Seu flamejo era um instrumento que dissecava a realidade, farfalhando uma nova forma de existir e estar pertencida ao mundo. A sua filosofia não nasceu nos ambientes suntuosos da Europa, mas nas terras áridas, hostis, estiadas, porém resistentes, chamada de Nordeste brasileiro. Não foi à toa que Euclides da cunha, muito tempo depois diria em sua clássica obra “O sertanejo, antes de tudo é um forte”. Por todas essas razões, a filosofia nisiana carregou a marca da urgência, da necessidade e da luta. É uma filosofia encarnada, que não se dissocia da vida vivida.

Se o formato de sua filosofia pautou-se na insurgência, a substância do seu pensamento ergueu-se sobre pilares que se comunicavam entre si, revelando coerência e profundidades notáveis: uma filosofia da educação, uma ética da virtude e uma filosofia política que se amplia da justiça de gênero para a justiça racial e social.

Quando Nísia joga luz sobre esses pilares, para serem vistos com clareza pela sociedade, ela não os dissocia. Pelo contrário, deixa explícito que eles sustentam um grande edifício, ou seja, são partes inseparáveis e fundamentais de um grande projeto intelectual. Por essa razão a defesa de que Nísia Floresta é uma filósofa deve ser vista com os rigores necessários. E é essa tese que me comprometo a defender a partir deste texto.

Quando analisamos a obra Opúsculo Humanitário (1853), constatamos que o seu conteúdo vai muito além da discussão meramente pedagógica sobre metodologias de ensino. É muito claro que Nísia propõe uma autêntica filosofia da educação. Essa obra é extraordinária é uma meditação profunda. Ela defendia que o ato de educar transcendia instruir e despejar um calhamaço de conhecimentos mesmo que úteis. O processo de educar seres humanos – homem ou mulher – está associado à formação do caráter, o cultivo da alma, guiando-os à sua realização plena como ser moral. Nessa bela obra ela destrinçou um cenário histórico da situação das mulheres desde a mais remota antiguidade, como premissas para alegar que a evolução de um país está associada ao lugar que as mulheres ocupam nesse país.

Para ela, a educação entre homens e mulheres deveria ser igualitária, e nessa defesa ela não postulava uma reparação social, Nísia argumentava - filosoficamente - que a capacidade racional e a virtude não perpassavam por gênero, e via como uma verdadeira mutilação da humanidade o ato de normalizarem a reclusão da mulher, privando o Brasil de almas capazes de pensar a civilidade e a justiça.

Na verdade, essa proposta está intrinsecamente ligada a uma vigorosa ética da virtude que passeia toda a sua obra, em especial no livro Conselhos à minha filha (1842), escrito para presentear o aniversário da filha Lívia Augusta de Faria Rocha em seus 12 anos. Essa obra não é meramente um manual de conduta ou mais um produto literário moralizante, típico da época. A obra revela um manifesto pela autonomia intelectual e moral.

Nísia Floresta não está delegando regras de comportamento social para meninas, mas refletindo sobre o que é, verdadeiramente, uma vida agradável, feliz e interessante (eudaimonia). Ela entendia a modéstia, a prudência, a fortaleza e a caridade como partes indissociáveis da alma, bens que fortaleciam sobremaneira a mulher, permitindo-lhe lidar com autonomia diante da sociedade machista e patriarcal. Ao invés de parecer um ato de submissão, talvez pretendesse um “disfarce” ou uma “armadura” para, aos poucos, conquistar espaços melhores. Ela deixa claro para Lívia que o estudo, longe de ser um passatempo, deve ser um ato tão comum como se alimentar e que dessa forma permitiria o caminho para a independência e a integridade.

Enfim, a sua filosofia política não se encerra na questão feminina. Nísia amplia largamente suas ideias para discutir diversas injustiças comuns àquele tempo, por exemplo: a degradação dos povos indígenas e a escravidão. Esses temas podem ser constatados em outras obras, inclusive no próprio Opúsculo Humanitário. Nele encontramos uma Nísia Floresta que, a considerar o contexto da época e seu amadurecimento gradual, ela tornou-se a primeira mulher abolicionista do Brasil. Suas críticas são muito duras. Embora alguns vejam o ponto a seguir de maneira muito equivocada, Nísia classificava como um “péssimo exemplo” o costume das senhoras brancas transferirem o dever sagrado da maternidade às escravas que eram amas de leite. Ela alegava que o costume corrompia a moral das crianças desde bebês. Nesse caso, ela não está classificado as mulheres escravizadas como imorais (como já li num conceituado jornal natalense), mas contra as mulheres que estavam transferindo o nobre dever maternal para es escravizadas, dever que ela tanto primava. Para Nísia, essa transferência corrompia as crianças.

O seu abolicionismo é sensivelmente percebido quando analisamos obras como “A Cabana do Pai Tomás”, de Harriet Beecher (1852), usado por ela para espelhar os horrores da escravidão brasileira. Ainda n’A lágrima de um Caeté, poema de 702 versos, escrito em 1849, ela é pioneira em jogar holofotes sobre os povos indígenas, e em mostrar indígenas reais, diferente daqueles que desfilavam nos diários de viagens europeus, totalmente alegorizados. Na literatura encontrávamos um indígena que era praticamente um herói ou uma pessoa civilizada nos moldes dos brancos. E Nísia desnuda um indígena que assume sua derrota causada pelo homem branco. O poema conta a saga de um Caeté, testemunha viva da truculência da colonização, e trata também da Revolução Praieira em que ela, ousadamente, elogia seus heróis, a exemplo de Nunes Machado. A obra é uma profunda meditação filosófica sobre a identidade nacional, a memória e a violência fundadora do Brasil. Totalmente contrária à visão idealizada do indianismo romântico. O indígena Caeté de Nísia Floresta é um protagonista que mesmo se sentindo derrotado pela estupidez do invasor, indaga o próprio conceito de “herói”, expondo o seu drama. Nesses moldes, sua filosofia é revelada com clareza: uma busca incansável por uma nação pautada de justiça, cujo projeto de mudança só seria realidade se homens e mulheres, pretos ou indígenas, fossem virtuosa e civilizadamente educados.


Observa-se que há uma relutância da academia para reconhecer Nísia Floresta como filósofa. Certamente isso ocorre devido ao estilo de sua escrita. É quase um padrão entender a filosofia como um tratado sistemático, regido por uma narrativa rigorosa e técnica em que o leitor muitas vezes precisará ser evoluído para “decifrá-la”. Algo parecido com Hegel ou Kant. Certamente por não se encontrar nos textos nisianos um sistema dedutivo, uma construção de conceitos abstratos, deduz-se –apressadamente – pela inexistência do pensamento filosófico. Mas isso é um grande erro.

O filosofar em Nísia Floresta se deu através dos gêneros literários em voga àquela época: o manifesto, o poema, a crônica, o tratado, o conselho moral. O seu estilo de escrita não era o do sistema, mas da reflexão partilhada, da persuasão, da exortação. O que ela escrevia não estava restrito a um grupo restrito de iniciados, mas a qualquer pessoa, desde mães, jovens, governantes, intelectuais. Nesse aspecto reconhecemos a filosofia nisiana como profundamente socrática. Ela propunha o diálogo, a transformação do interlocutor. O pensamento dela não se exibia como um imponente palácio marcado por adornos em ouro, bronze e mármore, mas tal qual uma casa de taipa tão comum ao seu torrão natal – Papary –, funcional, segura, que se integra ao regionalismo local, portanto ao seu propósito.

Nesse sentido, o seu proceder é parecido, em finalidade, ao meu próprio trabalho de resgate linguístico que intitulei "A Linguagem no Rio Grande do Norte". Não o fiz por mero diletantismo, mas por acreditar, como Nísia acreditava, que "não existe palavra errada, jeito de escrever ou falar errado quando utilizamos a linguagem do coração. Nela está a emoção e, portanto, a raiz de um povo". Ela se serviu da linguagem da moral, da poesia, da emoção para expressar verdades filosóficas. Com a mesma determinação que defendo a legitimidade de palavras como “caningado”, “peia”, “empolado” e outras – contra a legitimidade da homogeneização da mídia –, numa época que a imprensa atendia aos interesses do sistema, Nísia defendeu a legitimidade do pensamento feminino e do grito indígena se utilizando das ferramentas literárias que dominava. Ela percorreu o universo da linguagem para obter as ferramentas que lhe seriam úteis.

Leitora voraz, Nísia teve condições suficientes para usar uma linguagem austera, pautada de técnicas, comum aos filósofos de sua época, mas tinha consciência de que, sem desmerecer até mesmo os intelectuais brasileiros de seu tempo, escrevia para todos, inclusive homens e mulheres alfabetizados rudimentarmente. Convém lembrar que o analfabetismo no Brasil daquele tempo era em número assustador. – principalmente as mulheres – seu maior interesse. Portanto precisava atingir o seu público. 

Obviamente que é necessário uma hermenêutica distinta para mergulhar na obra de Nísia. Precisamos reconhecer que a linguagem limpa e acessível usada por ela não significava superficialidade, mas um método filosófico. Ela sabia que para ser compreendida em seu intento de mudar o sistema, deveria tocar os corações, portanto se servia da prosa elegante e combativa, instrumentos perfeitos para divagar suas ideias. Nísia deixa evidente que o ato de filosofar não se restringe a um padrão. Inclusive é possível encontrar mais filosofia em sua obra Conselhos à minha filha do que nos inúmeros tomos de metafísica inúteis. A obra de Nísia Floresta – como um todo – é a comprovação de que o pensamento pode florescer na literatura, na crítica social, na polêmica, no apelo direto à consciência do leitor.

Isso exposto, seria ingênuo pensarmos que Nísia Floresta foi uma pensadora isolada, uma árvore exótica que despontou por acaso no isolado Sítio Floresta, em Papary, Rio Grande do Norte, de onde ela saiu aos treze anos de idade e nunca mais voltou. Ela deixaria o seu berço que nada tinha a oferecer e empreenderia uma trajetória marcada por períodos distintos no Pernambuco, no Rio Grande do Sul, no Rio de Janeiro e em vários países da Europa, onde passou a maior parte da vida.

Essa experiência revela uma intelectual cosmopolita inteirada de todos os debates de seu tempo, seja no Brasil, seja na Europa. Diferente de ter sido meramente uma leitora de ideias estrangeiras, ela dialogou com diversos intelectuais europeus, sendo uma presença viva nos círculos mais efervescentes daquela época. Como sabemos, é muito conhecido e comentado a sua amizade com o ilustre filósofo francês Augusto Comte, o pai do Positivismo. Ela o viu pela primeira vez quando frequentou suas conferências em Paris, mas a amizade em si floresceu no ano seguinte, inclusive ambos se faziam presentes em reuniões de intelectuais na casa de ambos. O período de 1856 a 1857 foi marcado por cartas trocadas entre eles, cujas originais estão dispostas na Casa Auguste Comte em Paris, tendo sido traduzidas e publicadas pela professora Constância Lima Duarte (UFRN/UFMG).

Julgando pela primeira impressão, é um verdadeiro paradoxo essa “sintonia” entre Nísia e Comte. O que aproximaria tanto a autora de Direito das Mulheres e Injustiça dos Homens, a intelectual que leu a polêmica Mary Wollstonecraft, com um filósofo cujas ideias, em inúmeros pontos, reforçava o papel feminino como “anjo do lar”?  Nos parece muito contraditório, mas não é. Essa relação traduz a maturidade do pensamento de Nísia. Sabemos que ela não era dogmática. Parece que ela viu no Positivismo de Comte sutilezas que ecoavam com o seu próprio olhar, a exemplo da valorização da mulher como educadora moral da família e da sociedade e a busca por uma organização social baseada na ciência e na ordem. Inclusive Comte teceu elogios ao Opúsculo Humanitário.

Na verdade, Nísia se debruçou sobre o sistema comtiano com criticidade. Agiu como aluna interessada, discutindo com o mestre, dialogando fluentemente na língua dele, descortinando o seu Brasil, inclusive impressionando-o. E no caudal desses diálogos e estudos ela aproveitou tudo o que poderia lhe ajudar a enriquecer o seu projeto de reforma social. Mas, diferente do que alguns dizem, ela não foi positivista nem adotou essa doutrina como parte do seu projeto, tampouco trouxe o Positivismo para o Brasil, conforme já li e ouvi dizer. Ela foi uma pensadora que se engajou com consciência critica diante de todas as correntes filosóficas mais fortes naquele tempo, mantendo a sua própria digital no que se refere à originalidade de sua perspectiva.

Toda a sua vida na Europa pautou-se em cuidadosas observações e reflexões filosóficas, a exemplo de seus livros Itinerário de uma viagem à Alemanha (1857), Três anos na Itália, seguidos de uma viagem à Grécia (1864) e Le Brésil (1871). Nessas obras – que são relatos de viagem – passíveis de serem julgadas como um registro de coisas pitorescas – como o próprio Machado de Assis o fez quando se deparou com um dos seus livros e o julgou pela capa –, Nísia não perdeu tempo com o trivial. Ela olhava os panoramas com análise rigorosa, seja sistema político, educacional ou os costumes dos países que visitava, refletindo e criticando sobre a realidade do Brasil. Como uma filósofa, ela percorreu os grandes centros europeus para aguçar seu olhar sobre a sua própria cultura e sobre a condição humana universal. E nessa trajetória ela conheceu Alexandre Dumas (o pai), Alexandre Herculano, Victor Hugo, George Sand, Castilho, Azeglio, Manzoni, Duvernoy, inserindo-se de igual para igual no absoluto direito na república mundial das letras e das ideias.

Ao chegarmos até aqui, visualizamos Nísia Floresta como a pensadora viajante que dialogava com o mundo e com o seu próprio eu. Viajante que observava a realidade da Europa para entender o Brasil e o que tornava a Europa adiantada em relação ao Brasil, e as razões desse avanço, sobretudo questionava o que sabiam os intelectuais europeus, o que os faziam alçar superior intelectualidade, já que eram escassos os filósofos até mesmo na corte brasileira. Tivemos Matias Aires Ramos da Silva de Eça (1705-1763), nosso primeiro filósofo, autor de “Reflexões sobre a Vaidade dos Homens”, uma das primeiras produções de filosofia moral escritas no Brasil, embora ele tenha passado a maior parte de sua vida na Europa, e o Frei Francisco de Mont’Alverne (1784-1858), outro pioneiro.

Até aqui, reunimos informações substanciais para enquadrar a nossa Nísia no rol dos filósofos brasileiros, mas é fundamental irmos a fundo na análise para muito adiante do que ela discorreu e esquadrinhar a própria mecânica de seu pensamento. Quando lançamos o olhar atento sobre isso, constatamos que Nísia não tinha meramente uma sucessão de ideias audaciosas, mas uma incrível capacidade de síntese, uma destreza maestra de operar com elementos contraditórios para produzir uma nova compreensão.

O pensamento nisiano se maquinava de uma maneira que poderíamos batizar – permitam-me a licença poética e até mesmo o risco de anacronismo já que incorro involuntariamente a esses adornos (e o leitor me entende) –, de dialética. Digo isso porque constatamos em Nísia praticamente uma Aufhebung hegeliana, um movimento intelectual que simultaneamente nega, preserva e eleva as ideias com as quais dialoga. Mas olhemos inicialmente, a relação que ela tinha com o pensamento universal europeu.

Ela nunca foi uma receptora passiva, já observamos isso a partir do momento em que ela se depara com as ideias de Mary Wollstonecraft, e sobre essa intelectual inglesa, em 1995, a historiadora brasileira Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke causou impacto no meio intelectual ao afirmar que, ao contrário do que se acreditava, o livro de Nísia Floresta era, na verdade, uma tradução literal e integral de um tratado ainda mais radical e anterior ao de Wollstonecraft, pois data de 1739, ou seja, Woman Not Inferior to Man, escrito por alguém que, para publicar as suas ideias, recorreu a um pseudônimo, que foi Sophia, a Person of Quality, cuja identidade segue ignorada. Pallares-Burke considerou como uma “travessura literária” da tradutora potiguar, inclusive chegou a interpretar a tal “travessura” como “uma brilhante astúcia utilizada para romper com as regras do mundo intelectual, a fim de lutar por uma causa nobre, para cuja defesa muitos meios se justificavam”. Esse fato é digno de ser aprofundado e interpretado – colocando ambas as obras – no centro do debate

Mas, óbvio que Nísia leu Wolltonecraft, e ao encontrar-se com Wolltonecraft – ou com “Sophia” – ela passa a engrenar um movimento dialético complexo. Ela faz uma ampla leitura (ou releitura). Ela refuta o emprego direto e descontextualizado do feminismo inglês a uma realidade – a brasileira –, com os seus próprios infortúnios, como o patriacarlismo de raízes ibéricas, o catolicismo arraigado, a escravidão, mas ao mesmo tempo mantém o núcleo universal da argumentação por meio da defesa da racionalidade feminina e do direito à educação. Tudo isso alça Nísia Floresta a uma elevação, uma síntese: um ideário feminista que também é universal em sua gênese e profundamente particular, brasileiro, em sua aplicação e em suas matizes. Inclusive, exatamente neste aspecto, a pesquisadora Constância Lima Duarte visualizou como uma “superação dialética”.

Exatamente este movimento se expressa em sua forma de lidar com a tradição. Na verdade é necessário pontuar, que Nísia não é uma iconoclasta interessada em demolir totalmente os costumes. Pelo contrário – para surpresa de alguns – toda a sua escrita é pautada por uma moralidade cristã e valorização das virtudes tradicionais. Essa é a tese dela. A antítese é a sua defesa radical da emancipação intelectual e do envolvimento das mulheres na esfera pública, valendo ressaltar que isso consistia numa ideia profundamente ousada e transgressora para a época. Outra pensadora inexperiente talvez se perdesse nessa “contradição”, ou escolheria um desses polos. Nísia, prodigiosamente, opera a síntese. E longe de anular a moralidade, ela a sublima, alegando que a virtude e a moralidade reais só são alcançadas por meio da razão e da liberdade, jamais por submissão e ignorância. Nísia manteve intacto o vocabulário da tradição, mas o alçou a um novo patamar de significado, concebendo o ideal da “matrona esclarecida”, ou seja, uma figura que sintetiza a autonomia intelectual moderna com a moralidade tradicional.

A destreza de Nísia Floresta de pensar a "identidade na não-identidade", ou, precisamente, a ideia de que a identidade se constitui ou se manifesta através da diferença ou do não-ser, usando essa expressão hegeliana, joga luz nas diversas formas de opressão no Brasil. Ela não está interessada apenas na condição da mulher (o particular). A amplitude do seu pensamento abarca as mazelas contra os povos originários e os escravizados, atingindo uma compreensão mais universal da dialética da dominação. Na obra de Nísia Floresta constatamos que a transgressão e a religião, o Brasil e o mundo, o particular e o universal não são polos excludentes, mas expressões de um mesmo e complexo movimento de pensamento buscando incessantemente uma síntese mais elevada e mais justa. Essa força sintética e sua capacidade de ver unidade na contradição, eleva Nísia Floresta da condição de mera polemista à de uma autêntica e original filósofa, sem sombra de dúvida.

Finalizando, como escrevi no início, há muitos anos sou instigado a escrever essa “tese”, defendendo, sem receio algum, que Nísia Floresta é uma filósofa. Ao longo de 33 anos estudando a obra e a história dessa intelectual, anotando tópicos que para mim são essenciais, construí essas páginas por um sentimento de urgência e de justiça histórica. E esse meu sentimento de justiça é exatamente igual quando registro uma história colhida de uma pessoa idosa, ou uma expressão popular com risco de desaparecer se não for documentada.  

E quando faço uma viagem imaginária à silenciosa Papary de remotos tempos – que foi presenteada com o nome de sua filha mais ilustre –, reconheço que esse silêncio não significa esquecimento, mas de espera. O extraordinário legado de Nísia Floresta aguarda por leituras, estudos, pesquisas, divulgação, permitindo ser libertado do rótulo que a reduz a uma “precursora”. É importante o ato de vanguarda, de pioneirismo. Claro. Mas ser precursora implica que a importância da sua obra está meramente no que ela antecipou, e não no que ela foi, em sua própria plenitude. Costumamos enaltecer com orgulho o ato do pioneirismo, mas precisamos dissecá-la para entendê-la por dentro. Colocar Nísia Floresta no rol dos filósofos brasileiros do século XIX, além de a admitirmos como a primeira mulher filósofa do Brasil, não é um ato de anacronismo ou de bairrismo intelectual. Na verdade é um gesto de rigor histórico e de ampliação do próprio conceito de filosofia. Nísia é a nossa filósofa brasileira.

Defender essa ideia é admitir que o pensamento crítico, a investigação sobre os fundamentos da existência da sociedade, não prediz um padrão, mas que pode acontecer de diversas formas. É compreender que a resistência à opressão, quando defendida por intermédio da razão e da argumentação – seja num manifesto, num poema épico ou num livro de conselhos -, é uma das mais louváveis formas de filosofar.

Excluir Nísia Floresta da galeria de curiosidades das “grandes mulheres” e alçá-la ao panteão dos grandes pensadores brasileiros, muito mais que um ato de reparação, muito mais que fazer justiça, é estar sendo justo com nós brasileiros. É fortalecer nossa tradição intelectual, reconhecendo em Nísia Floresta uma voz poderosa e corajosa que, há quase dois séculos, elaborava as questões que até hoje assombram: sua luta por um país mais justo, a necessidade de uma educação libertadora e o desafio de edificar uma identidade nacional que não aconteça sob as mazelas da exclusão e do silenciamento da mulher, dos pretos, dos indígenas e de qualquer pessoa que habite o Brasil. E que as águas da lagoa Papary, onde Nísia banhava-se acompanhada por Pepé, lavem o silenciamento feito à nossa filósofa brasileira.

Que a brisa sopre dos coqueirais, leve essa mensagem: que a partir de agora, todos possam entender e dizer que no Sítio Floresta nasceu a primeira filósofa do Brasil. Uma mulher cuja voz, uma vez auscultada com o devido cuidado, segue nos educando sobre o Brasil e a e sobre a nossa própria condição humana. Seu pensamento não é uma ruína parcialmente ignorada – como a casa de pedra de Piranji –, mas uma semente que, mesmo tendo passado tanto tempo e ainda estar atualizada em muitos aspectos, embora que tardiamente, ainda pode germinar e despontar as mais viçosas vergônteas. 

Obs. O presente ensaio é apenas, digamos, um capítulo, diante de diversas considerações que necessitam serem feitas. Muitos livros ainda devem ser lidos, muito deve ser comparado, estudado, analisado; muitos pensadores precisam ser consumidos, mas este estudo pontua cirurgicamente as considerações que extraem da obra de Nísia Floresta o gabarito necessário para que a classifiquemos como a "primeira filósofa do Brasil do séc. XIX.

Luís Carlos Freire - Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte - Estudioso da obra de Nísia Floresta, bisneto da bisneta de Francisca Clara Freire do Revoredo (irmã de Antônia Clara Freire do Revoredo, mãe de Nísia Floresta).

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