Quando estive no Mato Grosso do Sul pela
última vez, fui a Campo grande com minha irmã e transitei numa BR
recém-inaugurada, cortando contínuo trecho de mata, ligando cidades
locais à capital, senti um aperto no coração. Cada km vencido um
zoológico de cadáveres de mamíferos selvagens se descortinava. Os
despojos, alguns recentes, outros ressequidos, amassados como
tapetes, gritavam silêncios do moto das noites em que, ariados pelos
faróis, perdiam a vida. ISSO REFLETE UM ESTADO EM QUE NINGUÉM
PLANEJOU MUDAR ESSA HISTÓRIA VERGONHOSA, POIS QUER VER DIZIMADA A
SUA FAUNA SILVESTRE AO QUE PARECE.
O QUE ACONTECE COM A MINISTRA
MARINA SILVA, ONTEM, É ALGO PARECIDO.
Impressionante - mas não
surpreendente - o que fizeram com ela, ontem, durante a audiência na
Comissão de Infraestrutura do Senado. Ela foi convidada pela para
tratar de unidades de conservação na Margem Equatorial, mas na
verdade foi jogada num covil de lobos com outros interesses. Esses
senadores que a atacaram – mesmo que seus currículos e o caráter
de cada um fossem impecáveis – ainda não teriam direito a tal
truculência, pois respeito cabe em todo lugar, portanto recomendo
aos leitores que pesquisem sobre a trajetória política e pessoal
desses caras.
Simplesmente Marina não pode falar. A ministra, como sabemos, é uma mulher de voz notadamente frágil – fruto de um problema de doença no passado, o que a faz se esforçar mais para falar. Não significa que frágil também seja a sua personalidade e sua competência, diga-se de passagem. Ela estava num ambiente em que, se tivesse sido respeitada, teria respondido todas as perguntas com serenidade, sem precisar de esforço algum. Mas ela se viu diante de uma arena com leões cheios de fome de colocar para fora a misoginia típica desses senhores. ELES JAMAIS FARIAM ISSO SE ESTIVESSEM DIANTE DE UM HOMEM. A GENTE JÁ CONHECE ESSA HISTÓRIA.
Em meio aos ataques machistas, ela deixou a
sessão depois que o senador Plínio Valério disse que "a
mulher merece respeito, a ministra, não". MISOGINIA PURA, POIS
NÃO HÁ DIFERENÇA: A MINISTRA É UMA MULHER E A MULHER ESTÁ
MINISTRA.
Plínio Valério é o mesmo senador que falou
recentemente em enforcar Marina durante um evento no Amazonas.
"Imagina vocês o que é ficar com a Marina 6 horas e 10 minutos
sem ter vontade de enforcá-la", disparou, na ocasião. ESSES
CARAS NÃO SUPORTAM UMA MULHER COM PODER DIANTE DELES.
Marina
também foi ultrajada pelo senador Marcos Rogério que cortou várias
vezes o microfone dela. E quando ela disse "O senhor quer que eu
seja uma mulher submissão; eu não sou". O senador respondeu:
"Me respeite, ministra. Se ponha no seu lugar". O QUE ISSO
QUER DIZER? ELE SENTIU-SE DESRESPEITADO POR ELA TER SE DEFENDIDO AO
INVÉS DE TER FICADO QUIETINHA E COM MEDO (COMO ELE ESPERAVA). ELES
TAMBÉM NÃO ACEITAM QUE AQUELE ESPAÇO PERTENÇA A UMA MULHER (BASTA
ISSO), E A OJERIZA AUMENTA QUANDO É UMA PRETA E UMA PESSOA DE ORIGEM
HUMILDE, OU SEJA, ELA É CONVIDADA A SE COLOCAR NO LUGAR DELA QUANDO
ERA POBRE, DOENTE E MASSACRADA PELOS ANTECESSORES DELE DESDE O BRASIL
COLONIAL. NADA MAIS!
Marina não foi convidada para o fim oficial, mas para ser massacrada, aliás, para tentarem massacrá-la, pois ninguém massacra uma mulher com tal currículo. Podem até fazer o que fizeram – isso é típico do bolsonarismo -, mas cerceá-la, humilhá-la, impedi-la de falar, jamais conseguirão.
O senador Omar Aziz se somou a esses desrespeitos, tentando desestabilizá-la aos ímpetos de defesa que ela fazia após os ataques dele. Em nenhum momento ela desrespeitou ninguém. Apenas pontuou falas de forma cirúrgica sobre as alegações maldosas feitas sobre o assunto em voga. E quando ela expôs que, para fazer a pavimentação da rodovia BR-319 era necessária “uma avaliação ambiental estratégica com uma mistura de técnica e ética”, o cara é tão maldoso que, mesmo entendo a colocação da ministra, deturpou que ela insinuava que ele não tinha ética, portanto julgou-se com propriedade para despejar uma série de ofensas equivocadas pertinentes a ações anteriores da ministra. Enfim, o senador fez escola em determinado capítulo de “O Príncipe”.
E esses caras são tiranos. Quando é alguém que se inclui no bojo do que eles não gostam – mesmo que a pessoa seja extremamente digna e competente – eles a desestabilizam para tentar fazê-la partir para a violência; usam argúcias típicas para tirar a pessoa do sério (tipo quebrar microfone, atirar livro em alguém etc) para depois ir para a imprensa – todo “por cima da carne seca" – tentar passar a mensagem de que tal pessoa é desequilibrada, incompetente etc. Isso pode ser visto com clareza nas declarações do fascista Marcos Rogério para a imprensa.
A RAIVA DESSES ENTREGADORES DISFARÇADOS DE PATRIOTAS E DEFENSORES DO BRASIL, É A REIVINDICAÇÃO DE MARINA PARA LEREM, REFLETIREM E DECIDIREM O MELHOR SOBRE O RELATÓRIO, O QUAL FOI ENTREGUE SEM SER LIDO POR QUASE TODOS, HORAS ANTES. COMO APROVAR UM DOCUMENTO TÃO SÉRIO SEM LÊ-LO? MAS É O QUE ELES QUERIAM.
O documento traz pontos frágeis e necessários de
serem mudados, como a redução do papel de órgãos colegiados, o
enfraquecimento da consulta a povos indígenas e a introdução do
licenciamento por adesão que elimina a análise técnica de impactos
indiretos relevantes.
MARINA É ULTRAJANTE PORQUE É MULHER E, PARA PIORAR, NÃO É O NOVO TIPO DE “PATRIOTA” QUE INVENTARAM ULTIMAMENTE. 27.5.2025.
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