"Andar
em Nísia Floresta é se angustiar". Não me refiro a você, que
durante anos a fio faz apenas o trajeto de sua casa para o seu
trabalho ou mal vai a São José de Mipibu ou às praias locais.
Uma
senhora idosa – falecida há cinco anos – me dizia nunca ter
visto o mar. Ela nasceu e morreu em Nísia Floresta e nunca viu uma
das mais belas obras da natureza. Isso parece inacreditável, mas é fato; e quando eu digo isso, me refiro
a você que não conhece Nísia Floresta na palma da mão, como é o
meu caso, que já andei por diversas vezes em cada pedacinho de sua
geografia. E é bom que você faça o mesmo e amplie o seu olhar.
Já
ouvi alguns nisiaflorestenses dizerem que em Nísia Floresta tudo vai
bem. Elas estão conformadas apenas com o aspecto visual do centro da
cidade, que até engana por sua plástica "bonita". Para
elas, ter um centro "bonito" está ótimo. Elas, de tão
alienadas, parecem não se incomodar que um município não é apenas
o seu núcleo, mas um todo.
E
quando se sabe que nesse centro "bonito" não existe uma
maternidade funcionando, não existe pronto-socorro acaso um menino
pise num caco de vidro, não existe uma agência bancária, não
existe sequer uma fábrica etc etc etc, você constata que o centro
de Nísia Floresta, na realidade, é feio... e que você não sabe
discernir diferença entre feio e bonito.
Como
pode ser bonito um lugar sem emprego?
Eu
me angustio quando vejo incontáveis pais de família sentados nos
batentes de suas casas ao lado de uma garrafa de Pitu, observados
pelos filhos (muitos deles engatinhando), os quais crescem vendo a
miséria e finalizam propagando-a para as novas gerações.
Nísia
Floresta tem, sim, fábricas, mas fábricas de miseráveis produzindo
miseráveis. Miséria gera miséria na mesma proporção que dinheiro
gera dinheiro. E como o povo tem dinheiro?
Trabalhando.
E
trabalhando aonde?
Em
lugar algum.
Resultado:
miséria gera miséria. É esse o cenário de Nísia Floresta.
Você
conhece "OS INOCENTES"? É um aglomerado de barracos feitos
de lixo no distrito de Pium. É de se chorar de piedade.
Desse
mesmo jeito existe um aglomerado de casinholas mal feitas localizadas
em Pirangi, às margens de uma estrada de barro, cuja droga e o
tráfico correm soltos. É uma espécie de favela. Miséria pura.
Em
Jenipapeiro, Currais e Golandi muitos passam fome e vivem ilhados,
sem saber o que se passa no próprio município e tampouco no Brasil.
Televisão e celular são objetos de luxo. Também são lugares
pautados por droga. As moças e rapazes fazem filhos mal saindo das
fraldas. É miséria pura.
Talvez
você pense que eu quero consertar o mundo ou acha que quero
consertar tudo isso como num passe de mágica.
Mais
ou menos.
Eu
quero uma administração que faça a diferença. Que priorize os
pobres, que são maioria. Eu quero uma administração que tenha
sensibilidade com as diversas misérias de Nísia Floresta. Uma
administração que se desdobre para encher o município de fábricas,
de cooperativas; que ajude o agricultor a reconquistar aquele passado
de fartura, que valorize os pecuaristas de baixa renda, que gere
emprego e renda através do turismo, enfim que faça coisas simples e
que nunca foram feitas. É esse o passe de mágica!
Entendeu
agora porque eu digo que "andar em Nísia Floresta é se
angustiar"?
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