Passada
essa eleição tão violenta em quase todo o Brasil – pautada por
mortes, tiroteios e emboscadas - não se deve deixar passar a
necessidade de se reeducar a sociedade sobre política. E a escola
tem papel fundamental nesse mister.
Essa
história de extinguir as discussões sobre política nas salas de
aula, é coisa de gente conservadora, antiquada, que não aceita as
transformações humanas e sociais. Quem é velho deve reconhecer que
o seu tempo passou e esse tempo é o tempo dos outros, como sempre
disse o meu pai. O mal dos velhos é querer que a roda maior nunca
passe dentro da roda menor.
Nada
contra o respeito, a ética e a justiça – até porque sou educador
– e antes de sê-lo, recebi excelente educação de berço, mas
tudo contra os cerceadores da liberdade de expressão e idealizadores
de leis mal intencionadas. Tudo contra os que querem moldar a
mentalidade juvenil segundo os seus tabus e hipocrisias e interesses
escusos. Escola é espaço de levar o aluno ao pensar, e não o
pensar.
O
Brasil viveu antes de ontem uma eleição que nos transportou à
época dos velhos coronéis, os quais matavam, mandavam matar
opositores, bater em quem era contra as ideias do sistema,
assustavam, intimidavam, obrigavam forçavam etc. O caso de Itabira,
em Minas Gerais, foi um dos mais graves dessa eleição que fez
mortos e feridos. Isso é inadmissível!
Aqui
pertinho, em Nísia Floresta, a casa da candidata a prefeita Marize
Leite, do PC do B, foi alvejada por um tirinete de tiros por duas
madrugadas seguidas. Ela precisou fazer comícios escoltada. O Estado
colocou um PM à sua disposição ao seu lado, 24 horas. Seus
comícios eram coalhados de PM's e viaturas. Como não bastasse, um
dos motoristas de seus carros de propaganda foi baleado por um
motoqueiro que passou dando tiros para todos os lados enquanto a
vítima lanchava num bar. Queriam fazer a candidata desistir à
força.
Diante
desse cenário deseducador, nunca foi tão oportuno às escolas
trazer esse contexto para a sala de aula, numa abordagem pedagógica.
A coordenação pedagógica pode compilar algumas notícias sobre os
fatos absurdos ocorridos em todo o Brasil e transformá-las em
aulas-debates.
Os
educadores podem colecionar notícias de localidades onde não
existem hospitais, maternidade, pronto socorro, emprego, enfim
localidade jogadas ao léu, comparando-as com lugares onde as
eleições ocorreram em paz, lugares bem administrados, onde existe
diferencial na gestão pública, comparando-os com gestões de países
como Suécia, Suiça etc. As diferenças são gritantes, mas o mote
da coisa é levar o aluno a refletir sobre o modelo ideal de
política. Política deve ser pautada pela civilidade, ética, justiça e
igualdade.
Há
vários caminhos. Ou educamos os nossos alunos para serem cidadãos
civilizados ou meros "paus mandados", indivíduos
maliciosos e corruptores. A escola é a base para o que ele vai ser no futuro, inclusive na política.
Os
alunos devem dizer que tipo de gestão ele quer para o lugar onde
vive. Ele precisa ter bem claro que o que vem ocorrendo em muitos
lugares do Brasil não é política, mas truculência e bandidagem.
Ele precisa ser despertado a ser um cidadão de bem, que tem
consciência de seus direitos e deveres, que pode contribuir
respeitosamente com a sociedade seja em que profissão for. São os jovens que
administrarão o nosso país no futuro, portanto eles devem pensar a
política seriamente, hoje. Que história é essa de "escola sem
partido"? Até o projeto tem título mal intencionado, afinal
que diretor idiota permitiria isso? Esses equivocados reivindicam "escola
sem partido", mas, na realidade, querem escolas que não discutem política e
atualidades, pois isso coloca em risco comportamentos autoritários, arbitrários e muitas vezes, corruptos.
Se
deixarmos de lado a oportunidade singular de discutirmos política em
sala de aula, justo nesse momento onde fazem da política instrumento de morte – numa dimensão assustadora –
estaremos levando os nossos estudantes ao pensar torto. Eles entenderão que isso é normal. Que poder se conquista pela força. Se ignorarmos o quadro bárbaro atual, nossos alunos entenderão
que bandidagem é normal.
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