Creio que deveria ser hábito da maioria das pessoas conservar as joias arquitetônicas do passado. Essa bela residência (1), situada na rua Jovino Barreto, Cidade Alta, em Natal/RN é um exemplo vivo de respeito à História e à memória de Natal.
Se a minha avó fosse viva, diria “essa é uma casinha de boneca”, expressão usada para se referir a uma casa bonita, compacta e bem cuidada. Para mim essa é uma casa-poema. Casa que exala poesia através das paredes, das janelas, dos ornatos vegetalistas em alto e baixo relevo, da moldura das janelas, do alpendre, dos ornamentos do muro, enfim é um enfeite arquitetônico que enche os olhos.
A casa-poema antes da reforma |
Quem me conhece, sabe que sou um ferrenho defensor das boas tradições e estou sempre postando algum material, seja sobre homens e mulheres que deixaram um legado significativo, sejam críticas relacionadas ao abandono de prédios históricos, elogios pela revitalização e restauração das construções antigas, como uma das propostas do blog. Numa antítese do que dizia o poeta Manoel de Barros, "é uma das minhas maneiras de ser útil".
Casa 2 |
Casa 3 |
Provavelmente esse conjunto de casas isoladas que insiste em resistir pertence a herdeiros e terá o tradicional fim, quase sempre engolido pelo mercado imobiliário. Creio que num futuro não muito distante algumas serão transformadas em caixas de sapatos* como tantas outras. Mas, por sorte, a casa-poema apresenta sinais claros de que é uma sobrevivente ilesa.
Como moro num prédio muito próximo e estou sempre passando por ali para ir ao centro, nunca deixo de contemplá-la. O que chama a atenção no momento é que a residência, antes fechada, recebeu moradores. E não são de rua, diga-se de passagem! São moradores-donos, herdeiros, sei lá... são pessoas que têm um olhar visionário, pois estão revitalizando-a gradualmente.
O que chama ainda mais a atenção é que a casa vem sendo restaurada gradualmente sem prejuízos para a sua arquitetura original nem nos ornamentos em alto e baixo relevos, inclusive azulejos.
Parece poético, mas creio que morar numa casa assim, em se tratando de descendentes, traduz muito sentimento bom. As lembranças dos pais, dos avós, da infância, enfim os fatos ali passados. Não me refiro à pieguice ou coisas tristes. Creio que há uma agradabilidade que exala em todos os ambientes. Sem contar que tais construções são frias no aspecto de temperatura. Foram muito bem pensadas por quem as construiu.
Embora a atitude desses moradores não seja algo inédito é, no mínimo, digno de elogio, pois é muito raro encontrar tal iniciativa. A ideia da “moda” é destruir e construir algo moderno.
Se analisarmos o que significa destruir uma casa desse porte e construir algo no lugar, perceberemos quão impensável é tal atitude. Primeiramente é a qualidade da construção.
Grande parte das edificações desse perfil, por mais que apresentem alguns problemas (afinal a parte hidráulica e elétrica eram diferentes, bem como, hoje, o aspecto da telefonia/internet, faz-se necessários interferências nas paredes) é incomparável o quanto o dono lucra. Construir uma casa moderna no lugar da antiga pode sair três vezes mais cara de que o valor atual da residência.
Indo para a prova dos
nove, pesam o custo com pedreiros para a demolição (valor alto). Nesse ato os prejuízos
são consideráveis, pois o dono se indispõe de todo o madeiramento do teto e das
janelas. Muitas vezes tais materiais são de lei. Valem uma fortuna no mercado
das lojas de demolição. Nem todos têm paciência a findam doando para os
próprios pedreiros etc.
No bojo dessas
demolições, muitos donos se desfazem de lustres, armários de madeira que
poderiam ser reaproveitados, bem como seus pegadores, ladrilhos hidráulicos e
azulejos raros, engenhocas de ferro etc.). Saem onerosos os gastos com empresas
de transporte dos restos das construções (metralhas), enfim gasta-se muito
dinheiro para ver o terreno só no barro.
Depois desse processo
vem os gastos com engenheiro, arquiteto, cartório, material de construção,
pedreiros, Caern, Cosern, aquisição de mobiliários, assessórios de casa etc.
etc etc. Quando você descobre que poderia ter sido poupado dessa vaidade, reconhece o quanto perdeu por ignorar a preciosidade do imóvel demolido. Portanto, quem revitaliza algo desse tipo, lucra infinitamente. Sem contar o lucro que deixa para a história do Natal,
afinal essa casa foi erguida dentro de um contexto de época.
Falta, na realidade, uma mudança de cultura. Muitos entendem que tudo o que é velho tem que ser encostado, destruído em detrimento do novo. Essas pessoas ignoram que é possível morar bem e confortavelmente numa casa antiga, seja revitalizando-a ou não. Na maioria das vezes a morada é melhor, pois reúne uma série de fatores que fazem os donos se sentirem bem. Observem os prédios, verdadeiros espigões. Há quem more em casas centenárias e as adaptem plenamente para os padrões atuais, respeitando suas características externas.O que são os apartamentos? Verdadeiras casas de sapato. Ambiente frio tão enclausurante quanto uma gaiola. Eu, que nasci no Pantanal, que vivi entre bichos, quando visito a quase centenária casa dos meus pais sinto-me no céu. É uma casa antiga. Para mim ela é berço, cama aconchegante, caracol protetor no qual sinto-me gente, sinto-me plenamente vivo.
Casas iguais a essa são objetos de interesse de estudantes de várias engenharias, de arquitetura, de artes, de história, enfim a agrega-se à casa uma significação para muitas áreas.
Falta, na realidade, uma mudança de cultura. Muitos entendem que tudo o que é velho tem que ser encostado, destruído em detrimento do novo. Essas pessoas ignoram que é possível morar bem e confortavelmente numa casa antiga, seja revitalizando-a ou não. Na maioria das vezes a morada é melhor, pois reúne uma série de fatores que fazem os donos se sentirem bem. Observem os prédios, verdadeiros espigões. Há quem more em casas centenárias e as adaptem plenamente para os padrões atuais, respeitando suas características externas.O que são os apartamentos? Verdadeiras casas de sapato. Ambiente frio tão enclausurante quanto uma gaiola. Eu, que nasci no Pantanal, que vivi entre bichos, quando visito a quase centenária casa dos meus pais sinto-me no céu. É uma casa antiga. Para mim ela é berço, cama aconchegante, caracol protetor no qual sinto-me gente, sinto-me plenamente vivo.
Casas iguais a essa são objetos de interesse de estudantes de várias engenharias, de arquitetura, de artes, de história, enfim a agrega-se à casa uma significação para muitas áreas.
Alguns proprietários
não gostam muito dessa ideia, pois eventualmente sentem-se incomodados (se
assim se pode dizer) por pessoas desse perfil, embora não são todos. Num país
onde poucos dão valor à história e à memória, enaltecer uma iniciativa desse tipo
soa até mesmo bizarro. É como se houvesse exagero. Mas só parece. O que devemos
nos penalizar é pelo desrespeito das autoridades, pois elas deveriam dar
incentivos a tais iniciativas, inclusive revitalizar essas áreas e limpar as
ruas com decência. Esse projeto deveria ser em parceria com as universidades em
seus departamentos pertinentes.
É lastimável que um
proprietário tenha uma iniciativa tão altruísta, tão nobre como é o caso da
casa-poema - e tenha que conviver com uma rua cheia de mato, com água de esgoto
escorrendo na sarjeta e, sem contar, a ausência de ronda cidadã nas imediações.
A casa é linda. A iniciativa é nobre e digna de aplauso. Mas, inegavelmente, destoa
de tudo que está ao seu redor. O que se vê nas proximidades é sujeira e
abandono.
Mas, seja como for, os
proprietários dessa singularidade estão de parabéns. E sei que não é apenas
desejado por mim, mas por todas as pessoas que dão valor ao que tem valor.
Segue, abaixo, alguns links
pertinentes, bem como imagens da casa-poema em outros momentos e um exemplo de preservação apenas de fachadas, como é o caso do Sindicato dos Bancário, na avenida Deodoro.
Agradecemos o carinho com nossa casa, estamos fazendo de tudo para manter conforme original, penas que os custos sáo muito altos e nao temos apoio de nossa prefeitura. Abracos.
ResponderExcluir