O escritor Manoel Onofre Jr. em seu discurso de posse na Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, no dia 4 de dezembro de 1992, portanto há 32 anos, fez esse sintético e visionário discurso:
“Há algum tempo, num artigo de jornal, referindo-me a Academia - e não especificamente a esta - afirmava eu, de modo enfático: a Academia é o panteão dos vivos. Ironizava, com a irreverência dos jovens, o que não me parecia ser Academia, e que hoje se me afigura apenas o lado caricato da instituição: seu conservadorismo e a sua ligação com o sistema. No mesmo artigo a que me referi, eu citava o escritor e acadêmico R. Magalhães Jr., que, numa entrevista, deu este conselho aos jovens: ‘Atacar a Academia, já que a juventude deve ser rebelde contra o medalhão da glorificação fácil”. Mas, concluindo, disse o mestre: “Depois de gritar bastante, entra para a Academia e tenta melhorá-la”. Meu conceito de Academia, hoje, é outro, inteiramente diverso daquele da minha juventude. Eu mudei. Mudou a Academia. Não mais a vejo como um misto de Olimpo e feira de vaidades. Considero-a, tão somente, simples agremiação literária ou a casa de cultura, que deve dinamizar a vida cultural, sempre sob o signo da renovação. É essa a academia que abraço.
Nessa obra o escritor Manoel Onofre Jr. a inicia fazendo uma síntese sobre o surgimento da Academia Norte-Rio-Grandense:
“ No dia 14 de novembro de 1936, um grupo de intelectuais, tendo à frente Luís da Câmara Cascudo, fundou a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, instituição voltada para “a cultura da língua, da literatura, ciências e artes’. Seu primeiro presidente foi Henrique Castriciano, um dos mais ilustres homens de letras, e, que, instado pelos seus pares, aceitou o encargo. A secretaria geral ficou com Cascudo; as 1ª e 2ª Secretarias, respectivamente, com Edgar Barbosa e Aderbal França, e a tesouraria com Clementino Câmara”.
Sobre as providências iniciais com vistas à fundação da entidade, há depoimento do próprio Adherbal, nestes termos: “ A Academia nasceu de reuniões em casa do Dr. Câmara Cascudo (...) Ele é para nós o que Conrart para os imortais da França (...) A Presidência ficou com Henrique Castriciano, que é, assim, o nosso Machado de Assis”.
Em seguida ele traz os discursos feitos por ele quando foi convidado a saudar alguns intelectuais norte-rio-grandenses, a exemplo de Pedro Vicente da Costa Sobrinho, empossado no dia 26 de agosto de 2004; Paulo de Tarso Correia de Melo, empossado no dia 27 de outubro de 2004; Carlos de Miranda Gomes, empossado no dia 12 de junho de 2015; Nelson Patriota, empossado no dia 16 de abril de 2016; Jarbas Martins, no dia 21 de julho de 2016; Lívio Correia, empossado no dia 10 de março de 2017, e, finalmente, Clauder Alexandre, no dia 2 de março de 2018.
Essas saudações, escritas com muita sensibilidade, nos permitem conhecermos um pouco sobre esses escritores então empossados. Mais que isso, elas revelam uma inteligência muito bem desenhada, o homem observador que é Onofre, grande leitor que, embora se julgue modesto nesses pareceres, o faz com poesia, sinceridade e grande conhecimento.
Manoel Onofre nasceu em Santana do Matos, sertão do Rio Grande do Norte, a 20 de julho de 1943. Escreveu: Serra nova, 1964; Martins, sua terra sua gente, 1966; Histórias do meu povo, 1968; A primeira feira de José, 1973; Estudos Norte-Rio-Grandenses, 1978; Breviário da cidade de Natal, 1984; Salvados. Ensaios e notas, 1982, 2002, 2014; Chão dos simples, 1983, 1998, 2014, 2018; Guia poético da cidade de Natal, 1984; Retretas, serenata, 1984; O caçador de jandaíra, 1987, 2006, 2019, 2022; Os potiguares, 1987; O diabo na guerra holandesa, 2022; MPB principalmente, 1992, 2022; A palavra e o tempo, 1994; Ficcionistas do Rio Grande do Norte, 1995, 2010; Guia da cidade do Natal, 1996, 2002, 2009; Espírito de clã, 1997, 2003, 2013; Literatura & província, ensaios e notas, 1997; O chamado das letras, 1998, 2015. Poesia viva de Natal, 1999; Recordações do paraíso, 1999; Martins - A cidade e a serra. Ensaios e notas, 2002,2005; Um gentleman do sertão, 2001, 2003; Contistas potiguares, 2003; Coronel cristalino, 2003; Umarizal - Síntese histórica e biográfica, 2004; Imortais do RN, 2004; Simplesmente humanos 2007, 2019; Portão de embarque, 2008; Portão de embarque 2, 2009, 2012; Conversa na calçada, Crônicas; 2011; Alguma prata da casa. Ensaios, 2012, 2016, 2023; A servidão diária, 2014; A servidão diária 2, 2015; Humor no conto potiguar; Polycarpo Feitosa - O excêntrico Dr. Souza, 2016; O chamado das letras II, 2017. Retratos de um homem de bem. Cícero Onofre, contista e professor, 2017; Os Onofres. De Portugal para o Brasil, 2018; Antonio de Souza (Polycarpo Feitosa). Uma biografia; 2020; O desafio das palavras, 2020.
O autor participou de incontáveis coletâneas, antologias, livros com entrevistas e produziu muitos textos em jornais.
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