Padre Leandro, reitor do Santuário de Santo Antonio, em Goiás, mostra ponto onde escorreu água na pintura. |
Diante da dilapidação e descaracterização de parte considerável das igrejas antigas brasileiras - fruto da falta de conhecimento sobre História da Arte, Arquitetura Antiga, enfim todo esse contexto sacro antigo (inclusive restaurações) faz-se necessário às autoridades eclesiásticas incluírem nos Seminários católicos disciplinas que abordem tais assuntos. Os futuros padres devem assumir as paróquias cientes do que vão encontrar ali, inclusive conhecedores das leis sobre Patrimônio Histórico Sacro. Faz-se necessária uma formação específica, afinal o lugar onde eles celebram é santo e pertence a todos. As gerações futuras precisam ter a garantia de que conhecerão tudo isso com a sua devida originalidade. E esse compromisso e responsabilidade pertence a nós.
Tenho certeza absoluta que se existisse essa formação, os próprios padres não estariam destruindo tanta coisa que jamais será trazida de volta. É óbvio que existe meia dúzia de sacerdotes que, por si próprios, buscam tais conhecimentos, mas, em contrapartida, a maioria entende que pode retirar um pedaço de mogno e jacarandá de alguma parte da igreja e jogar no lixo. Até mesmo esses restos precisam ser reaproveitados com outras finalidades. Quem lucra com isso são os donos das lojas de móveis de restos de demolições.
Sobre isso, cito um caso ocorrido na Igreja Matriz de Nísia Floresta, onde um padre mandou construir um nicho da parede da igreja matriz iniciada em 1735 e as pedras ficaram ao léu - pasmem - pedras de mais de trezentos anos.
Em primeiro lugar jamais ele poderia ter descaracterizado a Igreja Matriz, cuja tentativa de construir outro nicho só foi abortada porque eu denunciei (do contrário outro crime teria sido cometido e hoje teríamos dois toscos elementos descaracterizando ainda mais a matriz. Várias pessoas correram para me avisar e imediatamente tomei as providências. Esse elemento, inclusive, deveria ser demolido e as pedras recolocadas no lugar. Se se quer exibir imagens de maneira protegida, faz-se um nicho de madeira de lei e o coloca no lugar. Mas como peça independente, sem danificar a arquitetura original.
Dia desses um amigo perguntou porque eu não procurava as autoridades da Matriz de Nossa Senhora do Ó para dar sugestões etc. Eu disse a ele que era a mesma coisa que eu procurar um professor e ensiná-lo a ensinar A-E-I-O-U às criancinhas. É inadmissível desconhecer um assunto que é obrigação. A televisão, os jornais, os livros, as redes sociais trazem matérias constantemente sobre isso. Até um bebê sabe disso, embora nem sempre é desconhecimento, e sim, truculência mesmo.
Todos os padres deveriam entender que a Missa é como o chão da Sarça Ardente. “Tire as sandálias, pois aqui é solo santo”, (Êxodo 3,5). A Missa é santa, por isso não admite enfeite. Ela não é uma árvore de natal, nem um bolo de aniversário. O Papa Bento XVI foi um dos grandes defensores dessa ideia, insistindo muito no zelo pela liturgia.
A Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó está pronta. Daqui para frente o único dever dos administradores é zelar, manter e restaurar (quando necessário), mas dentro da proposta original. As escolas tem papel fundamental nesse sentido, orientando os alunos a partir dos anos iniciais. Ao final do Ensino Fundamental as instituições de ensino devem ter como obrigação ter levado todos os alunos às igrejas antigas, construído conhecimentos pertinentes. Professores e pessoas versados no assunto tem papel fundamental na construção dessa reeducação. Do contrário o povo achará lindo pintar com tinta a óleo uma imagem do século XVI, ou consertar com esmalte de unha um detalhe do olho, ou quem sabe colocar um brinco comprado na feira e colocá-lo na orelha da Santa do século XVIII para ver se fica "engraçadinha"...
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