ÍNDIOS PESCANDO COM TIMBÓ MA AMAZÔNIA |
TIMBÓ
Este breve estudo, escrito entre 1994-1995, é dedicado a dona "Nô" Bezerra (in memorian), a grande dama do Timbó, cuja memória está personificada na plasticidade desse bucólico lugarejo, sob as mais variadas nuanças. A dona "Nô", o meu carinho e meu respeito.
Sempre achei curiosa a maneira como a História informa como os índios pescavam na velha Papari. O uso do timbó para tinguijar a água despertava-me o incessante interesse em saber que planta era essa. Em 1993 estive no Timbó pela primeira vez e fui recebido por dona Duó (in memorian). Mas, apesar de sua gentileza, ela nada sabia sobre a planta, inclusive me levou a um lugar e mostrou um exemplar. A ela o meu agradecimento.
Agradeço a João, irmão de Neves (in memorian), exímio "mateiro", profundo conhecedor da botânica local; o qual esmiúça a vegetação nisiaflorestense e as propriedades de cada espécie, com surpreendente sabedoria. Homem extraordinário, cujos ensinamentos me foram preciosos.
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Timbó de mata, timbó-rana (Derriselliptica) Heizer, 1986 (um dos inúmeros tipos do Timbó |
Normalmente
nos referimos aos povos indígenas como se eles não existissem mais.
Sempre usamos os verbos no passado: eles tinguijavam as águas, eles
fabricavam cerâmica; eles preparavam cauim etc. Mas não é bem
assim. Os índios estão vivos em muitos lugares e ainda continuam
pescando da mesma forma que faziam na antiga lagoa Papari, chamada
por eles, naquela ápoca, de "Paraguaçu", que significa
rio grande.
Infelizmente, em nossa região
não há mais índios, exceto na cor da pele, nos oblíquo dos olhos
de muitos nativos, enfim na fisionomia e em alguns usos e costumes.
Em termos de Rio Grande do Norte, sabemos que existem os índios
potiguaras na Baia da Traição, mas isso é assunto para outra hora.
ÍNDIOS TINGUIJANDO AS ÁGUAS DE UM RIO COM RAÍZES DE TIMBÓ |
No estado do Amazonas os
índios ainda usam o timbó para pescar, inclusive há estudos contra
essa prática, considerada pela legislação como criminosa. Até
mesmo índios mais conscientes são contra o uso do timbó, pois,
segundo eles mesmos, a substância mata diversos animais aquáticos
menores, além de fazerem mal à saúde dos próprios índios. Em
contrapartida, há índios que defendem o uso do timbó na pesca.
Controvérsias a
parte, timbó é um nome usado para designar a ampla variação das
plantas da família das leguminosas e das sapindáceas. Em 1560 Jan
Cart fez o primeiro registro sobre esse vegetal muito interessante da
nossa flora. "Tim'bó" é uma
palavra indígena, cujo significado em português é "mata".
Também já foi escrita como "tîbo".
Sua casca ou raízes são usadas para "tinguijar", pois sua
seiva é tóxica para peixe, por isso usada para pescar. Dessa planta
tira-se o alcalóide denominado "timboína" .
Timbó
é nome de cidade no Amazonas. Em Santa Catarina há o município de
Timbó Grande, e no Pará, a cidade de
Timboteua.
Em alguns lugares no estado
de São Paulo é denominada "erva-de-rato". E por
tal motivo usam em sentido figurado para se referir a situações de
lassidão, moleza, entorpecimento dos membros.
Há íncontáveis nomes dados ao timbó, pois é uma planta muito
comum no Brasil e em outros países inclusive existe em forma de
arbustos, árvores muito altas, árvores pequenas e ervas rasteiras.
Algumas dão flores de variados tamanhos, formatos e cores.
Há um tipo, denominado
"timbó-urucu" de compleição escandente
(lanchocarpus nicou), das Guianas, de folhas com folíolos rígidos e
coriáceos quando adultos, flores rubro-violáceas e vagens glabras e
compridas Suas raízes são usadas para
tinguijar e encerram a rotetona, empregada como inseticida. Rotenona
é uma
substância encontrada em plantas do gênero Lanchocarpus da família
das leguminosas; cuja substância
extraída de suas raízes entorpecem
peixes, insetos. Também é usado
como pesticida e especialmente na veterinária como ectoparasiticida
e acaricida para felinos.
Existem
estudos científicos em andamento que apontam que o "timbó-urucu"
causa o "mal de Parkinson". Da mesma forma aqueles que tem
os nomes: barcasco, cururuapé, nicou, timbó-macaquinho,
timbó-vermelho, timbó-açu, timbó-carajuru, timbó-grande,
timbó-vermelho; cipó (Lanchocarpus urucu). Esses são nativos do
Amazonas; têm flores em espigas purpurinas e raízes avermelhadas.
Alguns
estados denominam "entroviscar" o processo de entorpecer os
peixes. A palavra é derivada
de "trovisco"
( Daphane gnidium) da
família das
timeleáceas.
A ação de entorpecer os
peixes ocorre de acordo com a substância desprendida pelo tipo da
planta. Algumas soltam sumo, outros latex e outras uma espécie de
leite. São reproduzidas de diversas formas, seja através do galho,
sementes caídas da flores ou dos próprios frutos. Há tipos cuja
madeira é tão resistente que são aplicados até na carpintaria.
Essas leituras me permitiram constatar que, além da infinidade de tipos dessa planta, há cheiros, flores, sumos, óleos, latex e leites diferentes. A própria planta possui uma compleição variada, que vai de uma frondosa árvores de 35 metros - inclusive algumas são cobiçadas por marceneiros - a um pequeno arbusto ou um pezinho acanhado de erva. Veja o exemplo abaixo e conheça suas diversas denominações de acordo com outros estados brasileiros. Creio que o leitor, igual a mim, se surpreenderá:
1) "piscídia erytrina"
da subfamília das papilionoídeas, nativa da Martinica; possui
flores brancas com pintas purpúreas e vagens lineares;
2) cipó timbó;
3) timbé (Ateléia
glazioveana);
4) mata-porco (talísea
stricta);
5) cipó-de-sapo (Araujia
sericefera);
6) ginjeira-da-terra (Prunus
sphaerocarpa); RS;
7) erva-de-rato-verdadeira
(Psichotria marcgravii);
8) timbó-açu (Magônia
pubscens) nativa do Brasil (Piauí, Ceará, Minas Gerais, Mato Grosso
e Goiá) de casca lisa, folhas compostas, folhas muito fragrantes,
frutos capsulares e sementes oleoginosas; assa-peixe, tangui,
tingui, tingui-capeta (os frutos são usados como sabão, o mel de
seu pólem é venenoso, as folhas são usadas para tinguijar),
timbó da mata (Derrys guijanensis); timbó urucu (
lanchocarpus urucu);
9) timbó amarelo: cipó-timbó
10) timbó-boticário:
timbó-do-campo (Tphrosia brevipes);
11) timbó-bravo:
cipó-de-timbó (Serjania erecta);
12) timbó-caa: ajaré
(Tephrosia nitens);
13) timbó-carajurú:
timbó-urucu (Lanchocarpus urucu)
14) timbó-catinga: arbusto
escandente (Lanchocarpus floribundus) subfamília papilionoídea, de
folhas geralmente com sete folíolos ovadoblongos, acuminados e
coriáceos, e flores violáceas; timborana, timbó-taturuaia,
timbó-venenosos, timbó-vermelho (nativo da Amazônia, onde é
cultivado e usado para tinguijar)
15) timbó-cipó: cururuapé
(Paullinia Pinnata)
16) timbó da mata: trepadeira
(Derris guianensis) nativa das Guianas e Amazônia, de flores brancas
ou amareladas; timbó-açu, timbó-borana; fava-de-rosca
(Enterolobiun Schomburgkii); barbatimão
(Stryphnodendron guianense)
17) timbó-de-caiena
(Tephrosia toxicaria), nativa da Amazônia, de flores amareladas com
base rocha, em racemos, vargem curva com sementes venenosas,
usada para tinguijar; anil branco, arnica-brava, tingui-de-caiena.
18) timbó-do-campo: arbusto
(Tephrosia brevipes) nativo do Brasil, de ramos decumbentes,
caule tomentoso, folíolos seríceos, flores axilares
amarelo-escuras, timbó-boticário, cipó d'água (Sejania
caracasana);
19) timbó-do-Rio-de-Janeiro:
erva perene (Physalis heterophylla) da família das
salonáceas, nativa da América do Norte, de folhas cordadas, flores
maculadas e frutos ovais; é planta ictiológica; balãozinho,
bate-testa;
20) timbó-grande: timbó-urucu
(Lanchocarpus urucu);
21) timbó-macaquinho:
timbó-urucu (Lanchocarpus nicou);
22) timbo-manso: dragão
fedorento (Monstera Pertusa);
23) timbó-mirim: anileira
(Indigofera lespezoides) 2 anileira verdadeira (Indigofera
anil);
24) timbó-pau: árvore
(Clathrotropis macrocarpa) nativa da Amazônia, de flores
róseo-violáceas e vagens aésseis, revestidas de pelos curtos,
cabari, timborana;
25) Timborana: arbusto ou
árvore pequena
(Lanchocarpus discolo) que ocorre no Brasi, de flores amarelas,
róseas ou vermelho-escuras e vagens pubérulas; liana
(Lanchocarpus negrensis) nativa das Guianas e Amazônia, de flores
róseas e oblongas árvore (Machaeriun macrophyllum) Amazônia,
com madeira usada para carpintaria e flores panículas;
26) timbó-pau (Clathrotropis
macrocarpa); timbó-da-mata, timbó catinga (Lanchocarpus
floribundus), subfamília mimosóidea; fava-de-rosca
(Enterolobiun schomburgkii); barbatimão (Striphnodendron
guianense);
27) timbó-taturaia:
timbó-catinga (Lanchocarpus floribundus);
28) timbó-urucu; arbusto
escandente (lanchocarpus nicou), das Guianas, de folhas com folíolos
rígidos e coriáceos quando adultos, flores rubro-violáceas
e vagens glabras e compridas, cujas raízes são usadas para
tinguijar e encerram a rotetona, empregada como inseticida; barcasco,
cururuapé, nicou, timbó-macaquinho, timbó-vermelho; cipó
(Lanchocarpus urucu) da mesma família, nativo do Amazonas, de flores
em espigas purpurinas e raízes avermelhadas que encerram a
rotetona e outros princípios venenosos em ação inseticida;
barbasco, timbó-açu, timbó-carajuru, timbó-grande,
timbó-vermelho;
29) timboúva: árvore
que atinge até 35 m (Enterolobiun timboúva); esse tipo é
comum da Bahia ao Rio Grande do Sul; folhas bipenadas, flores em
forma de uma orelha humana; as cascas e folhas são ictiotóxicas
(sin. fava-de-vaca, jacaré, orelha-de-negro, orelha-de-preto,
pau-de-sabão, sobreiro, tambor, tamboril, tambori, tamboriúva,
tamburé, timbaúba, timbauva, timbuva, ximbó, ximbiúva, ximbúval);
árvore pequena (Quellaja brasiliensis) família das rosáceas,
nativa do Brasil, vai de São Paulo ao Rio Grande do Sul; possui
folhas lanceoladas, flores em corimbos axilares, madeira útil
para construção civil e casca adstringente, pau-de-sabão;
árvore de até 9 m (Quillaja saponaria), da mesma família
nativa da América do Sul, de folhas alternas e coriáceas, flores e
alvas em corimbos e frutos compostos que contém saponina e produzem
espuma abundante, casca do panamá; tupi: "timbo iwa"
(árvore da espuma);
30) timbo-venenoso:
timbó-catinga (Lanchocarpus Floribundus); timbó-vermelho:
timbó-urucu (Lanchocarpus urucu, Lanchocarpus nicou);
timbó-catinga (Lanchocarpus Floribundus);
31) timbozinho: timbó-pequeno;
anileira (Indigofera lespedezóides);
32) Timbó-açu (Magonia
pubescens)
33). timbó-de-Caiena
(Tephrosia toxicária) Tinguy (1663); ingui-da-praia
(Jacquinia arborea);
34) Euphórdia: é venenosa
(latex)
35) Pixuá (Euphorbia perplus,
Euphorbia chacarias)
36) Mata-porco (Talisia
stricta)
37) Cipo-de-sapo (Araujia
sericefera)
38) Vassourinha (Buddleia
brachiata)
saponina (sapindus marginatus)
39) barbatimão: árvore
pequena (S. Guianense) fava-de-paca, faveira, pachaco, timbaúba
timbó-da-mata, timborana;
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AO REVISAR ESSE VELHO TEXTO, ENCONTREI A REPORTAGEM ABAIXO, RECENTE, E ACHEI IMPORTANTE INCLUÍ-LA AQUI.
Moradores denunciaram caso ao Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac).
AO REVISAR ESSE VELHO TEXTO, ENCONTREI A REPORTAGEM ABAIXO, RECENTE, E ACHEI IMPORTANTE INCLUÍ-LA AQUI.
Planta tóxica pode ter matado 10 toneladas de peixes em rio no AC
Moradores denunciaram caso ao Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac).
'É daqui que tiramos a nossa comida', lamenta morador.
Água contaminada por 'timbó' pode ter causado morte dos peixes (Foto: Vanísia Nery/G1) |
Uma planta tóxica, conhecida por 'timbó', pode ter causado a morte de ao menos dez toneladas de peixes, no Rio Campinas, em Cruzeiro do Sul (AC). O caso está sendo investigado pelo Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac), após denúncia feita pela comunidade ribeirinha, na quinta-feira (24). Entre as espécies estão mandi, surubim, piau e bodó. A área contaminada chega a uma extensão de aproximadamente 7 quilômetros.
Mais de 150 famílias de cinco comunidades diferentes residem ao longo do Rio Campinas, e dependem da pesca para sobrevivência, além de utilizarem também a água do rio para beber, tomar banho e nos afazeres domésticos. A situação preocupa os moradores.
“Esse rio é como se fosse nosso açougue, é daqui que tiramos a nossa comida. Nem as escolas não podem mais fazer merenda para as crianças porque toda água está contaminada dos peixes que estão podres no rio. O cheiro é muito forte”, lamentou o morador da localidade Raimundo Nonato Rodrigues da Silva, de 59 anos.
O sentimento é compartilhado pelo morador Luciano Silva Cunha, de 25 anos. “Uma situação como essa a gente só pensa na saúde dos nossos filhos e da nossa família. Aqui quando falta uma comida é só ir até o rio e pescar. Agora não sei como vai ser com o peixe todo morrendo”, diz.
De acordo com os moradores, a prática de esmagar e mergulhar a planta na água para matar os peixes é normalmente utilizada pelos índios da região, para facilitar a pesca. No entanto, a comunidade suspeita que, desta vez, exista o envolvimento de pessoas de outras comunidades no crime.
Uma equipe do Imac foi na quinta-feira (24) até a comunidade, onde constatou a veracidade da denúncia. O gerente do órgão, em Cruzeiro do Sul, Isaac Ibernon, estima que o rio possa levar mais de 10 anos para se recuperar do dano.
“Esse veneno mata todos os peixes, do grande ao pequeno, são poucos que sobrevivem, normalmente os que estão acima do lugar do envenenamento. São mais de 10 anos para o rio se recuperar e voltar a ser uma fonte de alimentação. Só o tempo e a natureza para recuperar esse dano”, afirma.
Acho que não foi a plantinha não! Foram os políticos safados interessados nas terras dos colonos... Safados envenenaram a agua e colocam a culpa na plantinha...
ResponderExcluirEstou pesquisando sobre plantas e ervas medicinais e atordoantes, esta pesquisa me ajudou muito com minhas dúvidas. Obrigado por compartilhar o seu conhecimento conosco!
ResponderExcluirQue maravilha que isso foi útil a você. Como dizia o meu pai "quem não vive para servir, não serve para viver". Um grande abraço!
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